Ponte de Lima quer o que tem o seu nome: o rio.

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José Nuno Torres Magalhães Vieira de Araújo // Opinião

 

Relativamente à matéria sobre o estacionamento de automóveis no areal, é um facto que nunca houve vontade política pelo/s executivo/s CDS-PP de resolver a situação.

Em 2009, mais precisamente no dia 15/11/2009, foi apresentada, pelo PSD, para discussão e votação na Assembleia Municipal (adiante AM), a proposta “Um rio próximo das pessoas”, tendo em conta “O rio em Ponte de Lima”. Esta proposta, aliás, foi apresentada em sintonia com o único vereador eleito pelo PSD, à época, o Dr. Filipe Viana, sendo presidente da referida AM, o Dr. Abel Baptista, eleito pelo CDS/PP.

Em 2011, no dia 25 de fevereiro, foi solicitada pronúncia ao então presidente da AM, para garantir o esclarecimento sobre o cumprimento da proposta “Um rio próximo das pessoas”, aprovada por maioria na AM de 26 de fevereiro de 2010, que refere: “No prazo de um ano, a Câmara Municipal deve apresentar os estudos, de modo a poder gerir e obter um consenso alargado na comunidade local sobre o projecto a implementar.” Da resposta ao requerimento consta que “o estudo engloba distintas componentes: hidrológica, hidráulica, físico-química e biológica” e que “será, consoante as diferentes áreas de especialidade e domínio dos conhecimentos técnicos claramente reconhecido, dividido em três partes”.

No mesmo ano de 2011, no dia 29 de abril, numa intervenção na AM, foram, por mim, levantadas as seguintes questões: A questão que se coloca é saber porque é que esta AM não foi informada em devido tempo do ponto da situação dos estudos efetuados? A questão que se coloca é saber porque não cumpriu a CM a deliberação da AM? Valerá a pena fazer estas reuniões da AM, se não ligam às nossas deliberações?

Até hoje, volvidos que estão cerca de 10 anos, desconhece-se qualquer estudo sobre a matéria, contudo a Câmara Municipal de Ponte de Lima, deliberou, por unanimidade, no passado dia 18 de maio de 2020, aprovar a declaração de reconhecimento de interesse municipal – “Projeto de valorização das Margens do Lima” -, sendo que, embora no título sejam referidas “margens”, certamente por lapso de escrita, no desenvolvimento da proposta apresentada apenas consta uma das margens.

Todavia, da obra feita, relacionada com o rio, há a destacar quatro, na minha opinião, até aos dias de hoje: i) a Ponte de Nossa Senhora da Guia, inaugurada em 1980 e projetada em 1973, ii) o encerramento definitivo do trânsito automóvel na Ponte Romana e Medieval, em 1988 / 1989; iii) a área protegida das Lagoas, em 2000, e consequentes ecovias; iv) a construção do açude, em 2001, conforme Acordo n.º 68/2001. Estes são marcos que distinguem a história recente de Ponte de Lima

Quanto ao futuro, tendo em conta a obra a realizar, parece-me pertinente dizer claramente não ao estacionamento automóvel no areal.

O rio é peculiar em Ponte de Lima. Esta vila jamais seria a mesma sem ele, até porque está na origem do seu nome. Por isso, deve ser preservado na defesa da nossa e das futuras gerações, não só por questões ambientais e de defesa do património, mas também estéticas, funcionais e educativas. Estacionamento? Não, obrigado!

Não será uma tarefa fácil, mas deve concretizar-se, tal como as três atrás mencionadas, que na época também estiveram envolvidas em polémicas.

Afinal o estacionamento não é, de todo, um ponto de interesse para os limianos ou para quem visita Ponte de Lima. Até porque há alternativas, designadamente, na Guia e no São João.

O rio e as suas margens são o lugar mais emblemático de Ponte de Lima. Arrisco mesmo dizer que é a sua maior riqueza. Quem vai a Ponte de Lima, vai porque gosta de Ponte de Lima, da sua gastronomia, das suas tradições culturais e sobretudo da sua gente.

Assim, regressaremos a Ponte de Lima, a antiga Forum Limicorum dos romanos, sem poluição visual, podendo o areal ser devolvido a atividades de lazer e/ou lúdicas.