Com 24 Caprichos se celebraram 11 anos da Eurocidade Tui-Valença

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Iara Macedo # Opinião

 

O dia 10 de fevereiro assinala o aniversário do acordo que possibilitou uma ligação de longa data entre duas cidades vizinhas, separadas por nações – Tui e Valença. Tendo esta eurocidade celebrado onze anos de cooperação na passada sexta-feira, a Câmara de Valença e o Concelho de Tui estenderam um convite de comemoração a valencianos e tudenses para se unirem sob o teto do magnifico Teatro Municipal de Tui, ao som de Eliseu Silva e o seu violino.

“24 Caprichos Fadistas” foi, para quem assistiu ao concerto, um bilhete de ida numa jornada pela cultura portuguesa e, em parte, pela espanhola.

Com espetáculo marcado para as 20.30 horas, o Teatro abriu as suas portas ao público uns minutos antes para este se poder ambientar, encontrar o seu sítio e, como foi possível de ver, para manter a conversa em dia. No entretanto, fazia-se soar nas colunas clássicos do fado como “Gente da minha terra” da Mariza ou baladas conhecidas, por exemplo “I have nothing” da Whitney Houston.

Uns quantos cabelos grisalhos podiam avistar-se na plateia acompanhados de uns outros cabelos intocados pelo tempo. Várias eram as famílias, de diferentes tamanhos, formas e nacionalidades, que se sentavam pelos lugares dispersos do teatro. Alguns jovens acompanhavam os seus pais.

Quando tocaram as 20.36 horas no relógio, fecharam-se as portas, apagaram-se as luzes, abriram-se as cortinas e ouviu-se as palavras do Presidente da Câmara de Valença, José Manuel Carpinteira, relativas ao aniversário da eurocidade: “A convivência, a história e as memórias entre portugueses e espanhóis já tem séculos. (…) É necessário que Valença e Tui sinta esta eurocidade.” O alcaide de Tui acrescentou ainda no seu discurso: “Quando falamos da fronteira de Valença e Tui falamos das mais antigas fronteiras da Europa. (…) Foram onze anos importantes como uma eurocidade, mas a partir dos quais necessitamos ainda de continuar a trabalhar, de maneira a conseguir criar mais projetos conjuntos.”

Soam agora as 20.50 horas, é a altura do espetáculo. Um poema de Agustina Bessa Luís é projetado em espanhol enquanto é declamado em português por uma voz sem corpo. A voz pertence ao doutorado e especialista em música Eliseu Silva que sobe finalmente ao palco e faz ouvir no seu violino “XV – Fado Capricho Agustina Improvisada”, obra que apresenta o maestro e o seu instrumento aos espetadores.

Após a apresentação da sua primeira obra da noite, o artista fala com o público e conta a história de origem dos 24 caprichos, os quais nasceram em tempos de pandemia: “sem mais nada para fazer, o bichinho de tocar começou a surgir”, diz o compositor.

Antes de cada peça, Eliseu faz uma pequena sinopse e dá a conhecer a sua fonte de inspiração e o silêncio do público é de denotar, parecendo quase hipnotizado pelas palavras e melodia do violino, que por vezes tentava copiar o som de outro instrumento musical, e, como tal, permanece num silêncio atento na continuidade do espetáculo.

Ao contrário do que faz aparentar o nome da obra musical, neste palco, o compositor português apenas atuou nove caprichos, com uma duração de um pouco menos de dez minutos, sendo os oito posteriores ao da abertura designados por: “XIII – Fado Capricho Valsa entre Paredes”, “XII – Capricho de um Fado Santo”, “XVI – Fado de um Capricho Perpétuo”, “II – Fado Penas do Coração”, “XXI – Capricho de um Menino Encantado”, “XVII – Fado Vampiro”, “XI – Fado Solitário de um Confinamento Capricho” e, para finalizar, “II – Capricho de um Fado Negro”.

Num espetáculo de um homem único, Eliseu Silva trouxe companhia para palco, ainda que não humana – desde poemas projetados a vídeos e gravações reproduzidas, como também luzes com cores em constante mudança. O violino e a decoração eram os únicos elementos que permaneciam inalterados. Pode-se dizer até mesmo, que o corpo do artista não se permitia ficar quieto, acompanhando o som do instrumento, que pousava sobre o seu ombro, numa espécie de balanço da direita para a esquerda e de cima para baixo, consoante o que lhe comandavam as notas que tocava.

Entre caprichos dedicados a lendas como Zeca Afonso ou Amália Rodrigues ou outras mais, o violinista e compositor é recebido com um longo aplauso da sua plateia, que não sugeria ter fim, fazendo Eliseu regressar várias vezes ao palco para agradecer os louvores dos valencianos e tudenses.

O concerto termina então uma hora depois do seu início e fica dada por aqui a celebração do 11º aniversário da Eurocidade Tui-Valença.