Pai Velho deixa mapa de “1900 e troca o passo para presidente da Câmara se lembrar onde fica o Lindoso”

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O Pai Velho deixou, este ano, várias “heranças” corrosivas e irónicas ao poder político, no tradicional Entrudo da freguesia do Lindoso, em Ponte da Barca. A leitura do testamento do Pai Velho é um dos momentos mais aguardados do Carnaval do Lindoso e voltou a reunir dezenas de pessoas junto aos espigueiros emblemáticos da freguesia.

A Junta de Freguesia foi a primeira visada do testamento por ainda não ter feito a rampa de acesso na casa de convívio para pessoas com mobilidade reduzida. “Deixo a padiola do meu enterro aos membros da Associação, para que, principalmente na minha festa, possam transportar essas pessoas para dentro da casa de convívio, para poderem irem à casa de banho ou para beber um copo com os amigos”, disse o Pai Velho, que também deixou à Junta todas as suas economias para acabar as obras na antiga escola. “As obras ficaram muito bem, mas não foram acabadas como prometido. Será que alguém pôs entraves ou foram proibidos de dar continuidade às mesmas?? Será que agora vão passar, a obras de Santa Engrácia??”, ironizou.

A Câmara Municipal levou as “heranças” seguintes: a conta bancária do Pai Velho “no banco BES” para “mandar limpar a zona envolvente aos espigueiros e Castelo a tempo e horas dos filhos fazerem a tradicional malhada do centeio do Lindoso”. “Todos os anos é preciso recorrer aos sapadores para limpar a zona envolvente ao evento, ficando o resto da área uma vergonha. Com tantos turistas que visitam o Castelo da minha terra, deixando cá ficar o dinheiro dos bilhetes, é triste esse dinheiro ser todo canalizado para a vila (sede do concelho)”, criticou o Pai Velho, que deixou o colmo da sua festa para cobrir as tascas da aldeia. “Como Lindoso é longe e fica fora das vistas da sede do concelho, no transporte das tascas devem ter perdido os estrados. As tascas pareciam as piscinas municipais. Será que as perderam ou já não foram carregadas??? Como era para Lindoso, deixa ir. Ponte da Barca acaba em S. Miguel”, lê-se no testamento do Pai Velho, que deixou “a fraga de Arrebita lo Rabo, para que Câmara Municipal ponha lá, o mono que está junto ao cruzeiro, assim fica escondida com os arbustos e não dá nas vistas”. “Aquilo não interessa a ninguém. Eu até tinha vergonha de lá passar, sorte que só lá passei duas vezes”, afirmou, deixando a sua reforma ao departamento municipal da cultura, “para ver se contrata mais pessoas para trabalhar nos edifícios de atendimento ao público do Lindoso. “É pena os turistas terem que andar a procurar onde anda o funcionário da Câmara, se no castelo ou no pardieiro de atendimento em frente à igreja”, constatou o Pai Velho, que deixou “o mapa de mil novecentos e troca o passo ao presidente da Câmara Municipal”, para que ele se lembre onde fica o Lindoso e a festa do Pai Velho. “Já se deve ter esquecido, e agora também já não sei, mas naquela altura, Lindoso ainda pertencia a Ponte da Barca e actualmente ainda é uma fonte de rendimento para o Município”, alegou o Pai Velho, que deixou ainda a sua agenda para melhorar a organização dos eventos do concelho. “Com uma festa como a minha, que é conhecida pelo mundo inteiro, tiveram logo que agendar outro evento para o mesmo dia”, lamentou.

Por fim, ainda deixou “as varas e os fueiros”dos seus carros ao Parque Nacional Peneda Gerês para fazer uma jaula para os lobos da serra. “Assim os senhores que andam a tirar fotografias a estes animais selvagens, não terão a necessidade de andar léguas atrás deles. Podem tirar as fotos dentro dos jipes em segurança, não correndo o risco de partirem um pé ou de se perderem e terem que chamar um helicóptero para os resgatar. Podia ser que, assim, começasse a haver mais gado na serra, que está a ficar vazia de animais domésticos”, alertou.