“Deitaram a escola abaixo” com a Serrada da Velha e … a “Chorinha”

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Os alunos do 6º ano da escola António Feijó, em Ponte de Lima, cumpriram a tradição e desfilaram com as suas “velhas” por todas as salas da escola, enquanto entoavam, alto e bom som, o cântico tradicional: “Olha o balão, olha o balãozinho. Olha uma velha enfiada num pauzinho!”. 

De acordo com o diretor do Agrupamento de Escolas António Feijó, José António Silva, esta é uma tradição que nunca passa despercebida na escola. “Lembro-me de grandes desfiles que nós chegamos a fazer na vila para celebrar este dia e depois as crianças deixavam as bonecas num espaço que a Câmara reservava para depois serem queimadas à noite. Portanto, sendo um elemento da nossa cultura e das nossas tradições, e estando nós preocupados com isso, sempre que temos oportunidade associamos as nossas tradições às atividades letivas”, disse, notando que esta atividade está ligada à disciplina de educação musical. “Uma escola não pode estar desligada da sua realidade social e cultural. Os professores devem conhecer sempre a história do local onde lecionam, claro que alguns passam em muitas terras e acaba por ser difícil fazê-lo, mas devem procurar fazê-lo sempre. Em Ponte de Lima temos uma quantidade de atividades ligadas à nossa cultura local e ainda bem que assim é”, considerou. 

No mesmo dia à noite, os jovens alunos dirigiram-se até ao centro histórico da vila limiana para completar a última etapa da Serrada da Velha: queimar as bonecas, que fizeram com “muito entusiasmo”. Participaram no cortejo que saiu do Largo de S. João, em direção ao Largo da Freiria e terminou no Largo de Camões, onde puderam queimar as bonecas numa fogueira. Este momento foi dinamizado pelo grupo de teatro “Pequenos Atores do Lima” e toda a comunidade limiana se juntou à “festa”. A Serrada da Velha é uma tradição popular que está integrada nos rituais de passagem e está também ligada ao simbolismo da regeneração e renovação, com a crítica a tudo o que é velho e a sua destruição, para dar lugar ao novo. 

Algumas instituições do concelho de Ponte de Lima também não deixaram passar esta tradição em branco e na Santa Casa da Misericórdia José Vieitas Duarte falou desta tradição aos restantes utentes. “Lembro me bem da Serrada da Velha. Já foi para aí há 60 anos e eu andava na escola. Era a “Chorinha”. Era a mulher a quem íamos cantar mais vezes. “Mas havia mais velhas a quem se fazia chacota”, recordou o limiano de 77 anos, recordando a música tradicional que chegou até aos dias de hoje. “Pedíamos jornais ao dr. Benvindo, antigo presidente da Câmara de Ponte de Lima, que na altura recebia os jornais todos os dias. Ele já sabia para o que era. Era para fazer os tais balões para queimar nesse dia, a meio da Quaresma. Íamos ao monte buscar varas de eucalipto ou de pinheiro e lá fazíamos as bonecas, grandes. Eu fazia a minha na adega da minha casa”, contou, acrescentando que à noite juntavam-se todos na Fonte da Vila. “Éramos muitos: do Arrabalde, do Pinheiro, do Passeio… Íamos pelas ruas acima por onde moravam as tais velhas, sempre a cantar e a fazer brincadeiras. Às vezes levávamos com copos de água ou com vassouradas e fugíamos a correr pelos jardins da vila, por onde dava”, recordou, acrescentando que as bonecas eram queimadas “ao tocar da meia noite” na Fonte da Vila. “Era um pagode!”, garantiu. 

 

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