“Democracias devem unir-se para superar ameaças das ditaduras”

0
67

A par dos conflitos bélicos a que se assiste hoje no mundo, “há uma espécie de guerra das ditaduras contra as democracias que está em curso, à escala global”. O alerta foi dado pelo ex-eurodeputado e agora ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, na conferência ‘Desafios à Democracia da Europa’, que decorreu na noite de sábado em Vila Verde.

“As democracias devem unir-se, para superar as ameaças que vêm das ditaduras, sob pena de ficarem em desvantagem e sob risco permanente”, desafiou José Manuel Fernandes, na conferência integrada no programa ‘Aqui Há Cultura’, no âmbito das comemorações dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril e sob organização da Escola Profissional Amar Terra Verde e do Município de Vila Verde.

Embora tratando-se do primeiro evento público como ministro, José Manuel Fernandes interveio, não como membro do governo, mas assumindo sempre uma perspetiva de europeísta e membro do Parlamento Europeu – qualidade para a qual tinha sido convidado a participar na conferência, ainda antes das eleições legislativas.

Numa sala repleta e contextualizada por uma exposição de fotografias do vilaverdense Alfredo Cunha sobre a Revolução de Abril, o ex-eurodeputado deu conta dos desafios que se colocam hoje à escala global, como o impacto do fenómeno da globalização, as alterações climáticas, as migrações, a demografia e a escassez de recursos num Planeta pressionado pelo consumismo de uma população cada vez mais numerosa e envelhecida. Acresce a questão da segurança e abastecimento energético, “que se tornou mais evidente com a guerra na Ucrânia”.

Concordando com o contexto de “crescimento dos extremos e reaparecimento dos nacionalismos e conflitos armados” – traçado pelo moderador da conferência, Arnaldo Varela –, José Manuel Fernandes destacou o novo desafio que passou a merecer especial atenção: a segurança.

“Os desafios são imensos e à escala global. Não se vencem pensando ou atuando ‘cada um por si’”, sublinhou o ex-eurodeputado, reforçando a aposta na solidariedade e na construção europeia como caminho de progresso económico e, sobretudo, social e humanista.

Em defesa de uma solução com “mais solidariedade e entreajuda”, apontou a luta contra a pandemia Covid-19 e a produção de vacinas.

Como espécie de “contra-exemplo”, recordou o ‘Brexit’: “a UE perdeu força geopolítica, mas foi ainda mais negativo para o Reino Unido – e foram os resultados e a constatação dos efeitos do ‘Brexit’ que funcionaram como vacina, evitando que o fenómeno e os movimentos de saída se expandissem”.

Estendeu as vantagens da partilha e união também à esfera militar: “parece mentira, mas a verdade é que o somatório dos orçamentos dos 27 Estados-Membros da UE em defesa representa o triplo do da Rússia”.

Numa Europa em que politicamente os radicalismos crescem e se alimentam, em que partidos de extrema-direita e extrema-esquerda apoiam a Rússia na invasão da Ucrânia e se opõem à União Europeia, José Manuel Fernandes chamou ainda atenção para os problemas ao nível da cibersegurança, as interferências de países em eleições de outras nações, a voracidade e a “sociedade do imediatismo”, a ilusão e o facilitismo das redes sociais e meios digitais.

Reconhecendo que “tem havido alguns retrocessos” nas garantias para um progresso de mais paz, liberdade, democracia e direitos sociais e humanistas, José Manuel Fernandes recusou perspetivas pessimistas. “Só temos força, se atuarmos juntos. Contra radicalismos de direita e esquerda. Os moderados são necessários. Temos que nos mobilizar em defesa da democracia”, desafiou.

Na conclusão do fim de semana que Arnaldo Varela classificou como “o ponto alto” do programa ‘Aqui Há Cultura’ – que na noite de sexta-feira contou com Henrique Monteiro, antigo diretor do Expresso’, para falar de ‘Fake news, redes sociais e comunicação social: desafios para a democracia’ –, a presidente da Câmara de Vila Verde, Júlia Rodrigues Fernandes, agradeceu a participação de todos na conferências e nos eventos da vasta programação comemorativa dos 50 anos da Revolução do 25 de Abril.

A autarca destacou a importância de reflexão e intervenção cada vez mais proativa “num momento de instabilidade enorme que se vive no mundo”, aproveitando para reafirmar a aposta na entreajuda e cooperação de todas as forças vivas na diferenciação do concelho pela positiva, valorizando as potencialidades e mais valias do território.