Hospital – contra a resignação!

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#Opinião 

Defensor Moura

 

Sou seguramente um dos vianenses que nos últimos anos mais tempo e atenção dedicou ao nosso Hospital. Como médico e dirigente hospitalar e, ainda, como dirigente da Ordem dos Médicos dediquei uma década e meia à melhoria dos cuidados hospitalares na minha terra natal. Mas tem sido como voluntário e dirigente da Liga dos Amigos do Hospital que, ininterruptamente desde há quarenta e três anos, mais tenho acompanhado e apoiado o desenvolvimento dos serviços hospitalares.

Dinamizando o Voluntariado junto dos doentes, promovendo a Dádiva de Sangue e angariando donativos dos Amigos Beneméritos para adquirir e oferecer ao Hospital materiais e equipamentos que os profissionais hospitalares solicitam, a Liga dos Amigos do Hospital tem sido o elo de ligação e de apoio da comunidade vianense à instituição.

Mas, apesar de quase todos os dias, continuar a calcorrear os corredores e as enfermarias dialogando com os doentes e os profissionais, estou muito longe de conhecer com profundidade os problemas e as dificuldades com que se debate o nosso Hospital.

Até porque não tenho tido oportunidade de participar nas reuniões do Conselho Consultivo, órgão em que a Liga dos Amigos do Hospital e outras instituições da comunidade vianense poderiam acompanhar mais de perto as actividades do Hospital e da Unidade Local de Saúde do Alto Minho.

Alerta do Conselho de Administração

Por isso, embora a Direcção da Liga tenha já tido uma reunião com a nova administração do Hospital, a entrevista concedida pelo Presidente do CA João Porfírio Oliveira e publicada no semanário A Aurora do Lima no passado dia 25 de Julho, foi da maior importância para informação e envolvimento da comunidade vianense na resolução dos enormes problemas com que se defronta a administração da instituição.

Foi muito boa notícia saber que, depois de anos sucessivos a ser remendado e acrescentado com contentores provisórios, o Serviço de Urgência do Hospital tem um projecto de ampliação e vão arrancar imediatamente as obras para construir as tão necessárias instalações definitivas.

Parabéns à administração por ter assumido essa obra como primeira prioridade do Hospital que serve os doentes de todo o distrito!

Mas o restante da entrevista do mais alto responsável da Unidade Local de Saúde do Alto Minho é um penoso relato de carências e dificuldades que não podem deixar de inquietar todos os vianenses potenciais utentes do Hospital. É a Cirurgia Vascular, é a Pneumologia, é a Gastrenterologia, é a Otorrinolaringologia e a Urologia, é o Bloco Operatório e, também, o Bloco Ambulatório, com falta de pessoal, de modernos equipamentos e de espaço para desenvolverem as suas actividades, tal como muitas outras carências que eu conheço e não foram referidas.

A que se acrescenta a notícia da “muito difícil situação financeira da Ulsam” e, mais uma vez, a crónica queixa da escassez do orçamento e da falta de adequação do financiamento governamental à envelhecida população do distrito e à dispersão geográfica das unidades de saúde pelos dez concelhos.

A Radioterapia, que a Liga dos Amigos do Hospital reivindicou com o apoio de 38 mil cidadãos do Alto Minho que subscreveram o abaixo assinado, não é considerada primeira prioridade.

Pudera! Com tão longo rol de dificuldades e de obstáculos que tem à sua frente para ultrapassar, como pode a administração olhar mais pra diante, para doentes que até já são encargo de outro Hospital?

Já tínhamos tido esse eco da anterior administração e, por isso, tínhamos recorrido ao Ministro da Saúde que, entretanto, foi substituído.

A situação é realmente preocupante, as perspectivas são desanimadoras e ninguém pode alegar desconhecimento delas depois da oportuna entrevista do dr. João Porfírio Oliveira. Os vianenses têm de tomar consciência da gravidade dos problemas e das limitadas possibilidades dos responsáveis para os resolverem com os instrumentos de que dispõem.

Como dizia o meu velho amigo Prof Lima de Carvalho, tão preocupante situação não se resolve com receituário para o “tempo comum” e, com passividade e a tão frequente resignação dos vianenses e dos alto-minhotos, as dificuldades do nosso Hospital manter-se-ão e tenderão a agravar-se com o tempo.

É preciso um sobressalto da comunidade, é preciso mobilizar tudo e todos.

“O Hospital é a casa comum de todos os vianenses” é um slogan usado habitualmente pela Liga dos Amigos do Hospital para alertar que todos podem, de um momento para o outro, precisar dos serviços do Hospital e, por isso, todos devemos contribuir para a melhoria constante da instituição.

A desgraça não acontece só aos outros!

Não podemos ficar de braços caídos perante as dificuldades e resignarmo-nos com a situação do nosso Hospital.

Lutar contra a resignação

A comunidade vianense já passou por situações semelhantes (mesmo no Hospital há quarenta anos) e mobilizou-se para dar a volta e ultrapassar questões bem difíceis.

Todos e cada um de nós temos o dever cívico da inquietação e da disponibilidade para resolver os problemas comuns.

Mesmo neste período estival de romarias e alegria, temos de ter sempre presente que é dentro das paredes do Hospital que se tratam os sofrimentos dos vianenses e se decide a vida e a morte dos que a ele acorrem.

Os nossos eleitos para as dez autarquias municipais do distrito, além do dever cívico, têm a obrigação política de se empenharem, não com palavras de circunstância, mas com acções concretas, urgentes e persistentes para resolverem os graves problemas com que se defronta o nosso Hospital, para conseguir prestar a assistência que é devida aos doentes do distrito.

É preciso que os dez Presidentes de Câmara do distrito se entendam e preencham o lugar de administrador a que a CIM tem direito no Conselho de Administração e que, de uma vez, assumam as responsabilidades que têm na Unidade Local de Saúde do Alto Minho nomeando, por exemplo, o Presidente do Conselho Consultivo, órgão que tão importante pode e deve ser para reforçar e ampliar as diligências do Conselho de Administração, junto da administração do Serviço Nacional de Saúde e do Governo.

A entrevista/alerta do Presidente do Conselho de Administração foi um aviso/apelo para a população e para os responsáveis políticos da comunidade distrital.

Estamos todos do mesmo lado.

Afinal o Hospital é a nossa casa comum!

4 de Agosto de 2024,

Defensor Moura