“Há figuras ou fenómenos no Alto Minho cuja relevância transcende a própria região”

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Miguel Ayres de Campos Tovar sempre foi um apaixonado pela época medieval, mas já depois da sua licenciatura em História de Arte, pela Universidade de Oxford, e de trabalhar na gestão de colecções privadas internacionais foi ao Alto Minho que decidiu regressar e apostar noutro grande amor: fazer o levantamento do património construído e cultural das freguesias de Ponte de Lima. Embora na altura tenha chegado à região “empurrado” pela condicionantes da pandemia, daqui já não quer sair e mostra-se “fascinado” com o que vai descobrindo, entusiasmando, também, famílias e outras personalidades da região. Vincando que “ainda há muita floresta para desbravar”, o historiador de 37 anos lamenta que se tenham perdidos “muitos pedaços da história” e garante que desde que começou a fazer o levantamento de património no concelho de Ponte de Lima “já não chegam os dedos das mãos para contar” o que fotografou e descreveu, mas já não existe.
Apesar de ser natural de Coimbra, Miguel Ayres de Campos Tovar sempre passou muito tempo no Alto Minho, onde mantinha raízes familiares, nomeadamente em Barcelos e Ponte de Lima. Recorda-se de, nas férias de verão, chegar com a família à Casa de Sá, na freguesia limiana com o mesmo nome, e estar tudo pronto para a festa do Senhor da Saúde, mesmo ao lado da propriedade. “É uma romaria que está, de certa forma, ligada à história desta casa, porque, apesar da romaria vir detrás, do período a seguir à implantação da República, ela caiu e praticamente desapareceu como quase todas as romarias do Minho. Foram proibidas as manifestações religiosas fora das igrejas, portanto, a romaria deixou de se fazer ou tornou-se irrelevante e no princípio da década de 30, o meu tio trisavô, António Mimoso, que viveu nesta casa, investiu muito em fazer reviver a romaria e até é conhecido por ter criado a tradição de abrir as adegas da casa, para dar um certo combustível à festa. Graças a ele e a outras pessoas, que também se empenharam, a romaria acabou por reviver e ainda aí está”, recordou, contando que foi acompanhando o restauro da Casa de Sá, cujas origens se “perdem no tempo”. “Não tem propriamente uma data de fundação, mas em 1501 o primeiro documento de que temos notícia refere a casa habitada pela família”, contou, recordando que sempre passou grandes temporadas neste espaço durante a sua infância. “No final da década de 80 a casa começou a ser restaurada pelos meus avós e eu vinha cá passar festas e temporadas e fui assistindo ao renascer da casa. Isso ainda me ligou mais a ela, porque não era uma casa estática, mas sim uma casa que ia melhorando”, vincou.