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“CRAV tem das melhores instalações que há em Portugal, mas está longe…”
Arcos de Valdevez foi palco da 1.ª jornada do Circuito Nacional de Super 7’s Feminino. A prova reuniu 20 equipas e cerca de 250 atletas dos escalões Sub-18 e senior num dia dedicado ao rugby e à liberdade. A formação Sub-18 do CRAV saiu vencedora, enquanto as seniores do Sport/CRAV terminaram no terceiro lugar, atrás do Sporting CP e do SL Benfica.
Nem a ausência de árbitros oficiais nomeados pela Federação Portuguesa de Rugby impediu a realização da prova, que voltou a trazer o melhor rugby nacional no feminino para o Alto Minho, apesar das dificuldades em atrair este tipo de evento para a região. “Nós temos uma dificuldade que é o nosso isolamento geográfico em relação aos outros clubes de rugby do país. Nós estamos na pontinha mais a Norte de Portugal e esta distância é muitas vezes uma condição que cria dificuldades na obtenção da organização de eventos”, admitiu Filipe Machado, vice-presidente do Clube de Rugby de Arcos de Valdevez, salientando que o clube “tem grandes instalações, do melhor que há em Portugal, e boa capacidade organizativa, mas está longe”.
Filipe Machado reconheceu a importância da organização do evento “para a população ver a dimensão em que o rugby está”. “Quem assistiu de certeza que viu belos espetáculos desportivos. É também importante para nós marcar a diferença e contrariar este isolamento institucional que temos em termos de rugby, fazendo algo bem feito com uma sensação de agrado das pessoas, que vão dizer nos locais onde vivem e nos seus clubes que em Arcos de Valdevez foi muito bom. É bom para todos”, explicou.
Garantindo que “aposta do CRAV no feminino está aí e é para ficar”, Filipe Machado defendeu que existe um “potencial interessante porque há muitos menos clubes a recrutar atletas femininas”, mas assumiu as dificuldades sentidas devido à “limitação demográfica do concelho, que é pequeno, com muitas associações”. Apesar dos obstáculos, o responsável relembrou que “há pouco tempo atrás”, o CRAV era “o segundo clube com mais inscrições femininas no país”, o que “não deixa de ser relevante, num concelho com 20 mil pessoas, comparado com os clubes de Lisboa e Porto”.
A jogar em casa, as Sub-18 do CRAV venceram a primeira de três provas do campeonato. “Ganhámos tudo. Foi muito bem conseguido”, contou Enya Gomes, jogadora de 18 anos. Praticante desde os 5 anos, a atleta admitiu que foi “muito bom” disputar a 1.ª jornada em casa. “Temos apoio aqui da casa, o apoio dos amigos, da família, que dá muito mais vontade de jogar e fascina mais um bocadinho”, assegurou. A jovem atleta, que também integra o plantel da equipa senior em rugby de 15, afirmou que o rugby é cada vez mais “apelativo”, mas reconheceu que o número de praticantes ainda fica aquém das necessidades, o que obriga as Sub-18 a jogarem apenas em provas de 7’s e as seniores a jogar em parceria com o Sport Rugby, clube do Porto. “Não temos tanta gente quanto isso para o rugby de 15, portanto continuamos nós [Sub-18] com os 7’s”, lamentou.
Segundo Enya, as recentes conquistas no feminino incentivam e atraem mais jovens atletas. “As mais velhas acabam por ajudar um bocado mais e motivam”, afirmou, referindo ainda o combate que é necessário fazer para destacar o papel das mulheres no rugby. “Para as mulheres é algo extraordinário. Há muito a visão de que o rugby é só para os homens, é muito masculino, e nós estamos aqui a desmistificar isso”, garantiu, relembrando a conquista da dobradinha, por parte das seniores, e dos campeonatos no escalão Sub-18.
Para além de reconhecer a “grande honra” de acolher a prova, o Município arcuense assumiu a importância do investimento feito nas infraestruturas dedicadas ao rugby para que seja possível assegurar condições para a prática, mas também para a atração de novos praticantes para a modalidade. “Há muitos anos que temos trabalhado juntamente com o CRAV na conceção das infraestruturas para darmos todas as capacidades físicas”, afirmou Emília Cerdeira. A vereadora do Desporto de Arcos de Valdevez relembrou a aprovação, no ano passado, de um centro de formação desportiva para a modalidade no desporto escolar, “que é uma forma de captar os alunos das escolas para praticar rugby e conhecer uma modalidade que não é conhecida para todos”.
Emília Cerdeira defendeu ainda que a captação de jovens atletas no feminino “potencia este tipo de desportos e este tipo de torneios” e elogiou a estratégia adotada pelo CRAV para fazer face à falta de atletas para formar uma equipa senior competitiva, recorrendo a uma parceria com outro clube. “É uma coisa inédita. Conseguir fazer a conjugação de duas equipas distintas para fazer uma equipa mais forte num campeonato que, talvez de outra forma não conseguissem chegar à liga principal. Acho que aí se vê a diferença do rugby para outro tipo de desportos”, enalteceu.