“Sou uma Cristina mais apaixonada pela terra”

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Cristina Torres tem 46 anos e é coordenadora de projetos na Direnor. É a responsável pelo programa “A Nossa Terra”, em Viana do Castelo, que celebrou recentemente 1000 emissões. Em 23 anos, Cristina entrevistou mais de 24.000 pessoas e, hoje, diz ser uma pessoa “mais apaixonada” pela terra que assume como “nossa”.

Nasceu em França, mas veio com quase quatro anos viver para a terra da mãe: Gaifar, em Ponte de Lima. “Tenho dois irmãos mais novos. Tivemos uma infância muito feliz com muitas brincadeiras no campo e alguns uns arranhões (risos). Cresci no campo, sem preocupações”, lembrou.

Cristina Torres estudou até ao 9º ano, em Ponte de Lima e, no secundário, como queria seguir jornalismo, foi para a Escola Secundária de Barcelos. Quando terminou o 12º ano, optou por turismo no Instituto Politécnico de Viana do Castelo. “O meu primeiro emprego foi em Esposende na área da hotelaria. Naquela altura, era o que achava que queria fazer da minha vida. Estive uns meses na Estalagem Zende até que fui contactada pela Direnor – comunicação, estudos, consultadoria e divulgação regional para uma entrevista de emprego”, recordou, acrescentando que acabou por aceitar “o desafio”.

1000 emissões, mais de 4.000 pessoas em estúdio e mais de 20.000 entrevistados no terreno

Em outubro de 1997, começou a trabalhar na Direnor como produtora de conteúdos para o programa “A Nossa Terra”, na Rádio Cávado, em Barcelos. Já em março de 1998, criou o mesmo programa, mas em Viana do Castelo. “Quase 23 anos depois, o balanço é muito positivo, senão, não estaríamos a falar de 1000 emissões, 1500 horas de emissão, mais de quatro mil pessoas que passaram em estúdio e mais de duas mil pessoas entrevistadas em terreno”, disse, admitindo: “Hoje, as coisas são muito diferentes. Quando comecei em Viana do Castelo, não havia propriamente muitos programas de informação com entrevistas e com este todo tempo de antena. Era muito interessante porque era uma novidade. Muitas das pessoas que entrevistei e com quem falei nunca tinham ido à rádio, por exemplo. Era completamente uma novidade.”

“A Nossa Terra” realiza-se todos os domingos, entre as 10h e as 11h30, na Rádio Alto Minho. “É um projeto criado pela Direnor que tem como objetivo conhecer e promover toda uma região, identificando as suas mais valias. Em Viana do Castelo, o programa toca os dez concelhos e, por vezes, vai até aos vizinhos, nomeadamente, Barcelos e Esposende”, explicou Cristina, referindo que, todas as semanas, “há novos conteúdos”. “O programa aborda diferentes temáticas como as freguesias, os movimentos associativos, as festas, os eventos, as romarias, as figuras ilustres e as empresas. Logo, não é difícil arranjar diferentes conteúdos, desde que estejamos atentos àquilo que acontece à nossa volta”, assegurou.

Até emigrantes na Colômbia ouvem o programa

Cristina Torres considera ainda que “a perspetiva com que as pessoas vêem a rádio” alterou-se. “Há uns anos, a rádio era um meio de comunicação mais usual. Não quero com isto dizer que hoje não ouçam, mas a internet, mais concretamente, as redes sociais, veio alterar algumas coisas. No entanto, a rádio ainda tem um papel muito importante, sobretudo, para as pessoas mais velhas”, referiu, contando: “Muitas vezes, ouço-as (as pessoas mais velhas) a dizer que ouvem o meu programa quando preparam o almoço, que somos a companhia habitual aos domingos e que descobrem coisas da suas terras que desconheciam.”

O programa acompanhou os tempos e chegou ao facebook. “As novas ferramentas vieram trazer muitas vantagens ao nível da divulgação. Chegamos a muitas pessoas quer através da rádio, quer pela nossa página do facebook. Quando partilhamos as fotografias dos convidados ou dos locais por onde andamos, percebemos que há emigrantes que nos acompanham desde a França, Brasil e Colômbia. Ou seja, temos seguidores dos quatro cantos do mundo”, disse.

“Dá-me a possibilidade de perceber como concelho de Viana mudou nos últimos 20 anos”

Como em qualquer programa, “A Nossa Terra” exige uma preparação. De acordo com a coordenadora de projetos, “em média, por cada meia hora de programa, a equipa anda uma semana no terreno a falar com as pessoas”. “Vamos ao terreno, conversamos com as pessoas, gravamos depoimentos com algumas delas e outras são convidadas para ir a estúdio. Além disso, fazemos também os contactos com os parceiros que viabilizam economicamente o programa. Todo este trabalho é feito pelo produtor, mas, quando comecei, fazia tudo isto sozinha”, explicou, acrescentando que o que sabe hoje deve-se ao acompanhamento que fez com o diretor José Ferreira. “Ele é que fazia os programas. A uma certa altura comecei a acompanhá-lo e acabamos os dois por fazer o programa. Mais tarde é que fiquei sozinha”, lembrou, acrescentando: “Também já não faço a produção sozinha, porque a equipa acabou por se alargar, e já não vou tantas vezes para terreno como antes. No entanto, sempre que vou, gosto imenso de falar com as pessoas e, sobretudo, dá-me a possibilidade de perceber como o concelho de Viana, por exemplo, mudou nos últimos 20 anos.” E nessa percepção da realidade, Cristina refere que as prioridades mudaram. “Há sítios e freguesias que estão completamente diferentes. Recordo-me nos primeiros programas que fiz, havia coisas que as pessoas tinham como grande necessidade na terra como é exemplo a recuperação da sede da Junta e da escola primária. Hoje, há preocupação com a área social e cultural”, afirmou.

“Convidavam-me para almoçar e até para as festas de família”

Sem querer destacar uma história ou momento, Cristina recorda, sobretudo, os primeiros tempos. “Eram bem mais difíceis em termos de comunicação. Usávamos pager’s para receber mensagens do escritório e tínhamos de ir aos cafés para ligarmos para lá. Era muito engraçado porque as pessoas fazem sempre questão de relembrar que as chamadas eram pagas”, contou, entre risos, adiantando que as pessoas a convidavam para almoçar. “Elas achavam muito engraçado que uma menina de 20 e poucos anos que morava em Barcelos, vinha todos os dias para Viana do Castelo e passava todo o dia fora de casa. Então, convidavam-me para almoçar e até para as festas de família. Lembro-me até de comentar com colegas que, se aceitasse todos os convites que recebia, não tinha vida própria”, recordou.

Mais de 20 anos de programas depois, a coordenadora de projetos diz ser uma pessoa “mais apaixonada pela terra”. “Descobri coisas que não sabia. Uma das vantagens deste trabalho é a possibilidade de falarmos, todos os dias, com pessoas diferentes, e de acabarmos por saber sobre muitos assuntos distintos. Sou uma Cristina mais apaixonada pela terra, conhecedora, menos tímida, mais sociável e com mais à vontade para conversar em público. Por vezes, continuo a esquecer-me que estou na rádio e que estou a falar para muita gente (risos). Há uma característica que mantive desde o inicio que é fazer os programas como se estivesse efetivamente a falar com as pessoas de uma forma informal. Acho que isso também deixa os convidados muito à vontade”, desvendou.

“Viana do Castelo é uma cidade fantástica”

Para o futuro, Cristina Torres afirma que, “enquanto houver condições”, o programa “A Nossa Terra”, em Viana do Castelo, é para continuar. “Nunca imaginei fazer isto da vida. Sinto-me uma pessoa realizada com este projeto. Se assim não fosse, não estava cá quase há 23 anos. Viana do Castelo é uma cidade fantástica. Temos um património e uma cultura riquíssima, paisagens maravilhosas e uma gastronomia muito interessante”, considerou, rematando: “Acho que também falamos das pessoas porque tudo isto não existiria sem as pessoas. Estamos numa região onde as pessoas gostam das festas, são hospitaleiras e têm ainda um carisma muito tradicional.”