Tempus fugit

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Os chapéus e bonés sempre me fascinaram. A razão para isso talvez seja ter acompanhado o meu avô na minha meninice vendo-o sempre usar, à semana, um boné, ao domingo, um chapéu. Ficaram-me na memória as caixas dos chapéus, redondas, com os monogramas das marcas, que eram guardadas para receber os chapéus sempre que não estavam em uso.

Quando cresci, o uso de chapéu foi saíndo de moda, e, talvez por vergonha, foi deixando-os de lado, mas mantive o hábito de usar bonés. Comecei a guardar alguns, dos mais tradicionais aos “americanos”, que chegavam até nós através da bondade do Sr. Malheiro, pai do Aníbal que os enviava do Canadá, até a alguns de funções profissionais que implicam o uso desse acessório.

Quando encerraram as chapelarias que existiam em Ponte de Lima, a alternativa para comprar um chapéu ou boné de qualidade era encontrada nas cidades de Viana do Castelo ou de Braga. Recentemente, dirigi-me a uma chapelaria em Viana do Castelo. Ainda antes da pandemia tinha adquirido lá um boné para oferecer. Para meu espanto, já não encontrei a loja. Confesso que me senti perdido, e a sensação de nos perdermos numa cidade que conhecemos desde sempre não é das mais agradáveis. No local onde seria a loja, encontrei um “salão de beleza”. Bem sei que os chapéus e os bonés podem embelezar um rosto, mas não seria, certamente, essa beleza que ofereciam no salão.

Infelizmente, perdemos, todos os dias, marcos na nossa vida que pensamos estar adquiridos. Lojas de bairro que desaparecem sem se dar por ela, hábitos que entram em desuso e que se esfumam com o tempo. Agora tudo tem de ser rápido, imediato, sem tempo a perder. Não há tempo para escrever uma carta, para comprar e ler um jornal, quanto mais um livro. Tudo tem de caber num ecrã de telemóvel. As chamadas feitas para este aparelho têm de ser imediatamente atendidas. É um tempo novo que não é melhor ou pior, mas que é diferente do tempo em que havia tempo, lá isso é.

Ainda ecoava nos ouvidos a musica da canção “As time goes by” quando Rick, a personagem de Humphrey Bogart, um dos ícones do uso do chapéu, no filme ”Casablanca”, responde à pergunta de Ilsa, um papel de Ingrid Bergman, “Mas, e nós?” com a conhecida resposta “Teremos sempre Paris!”. Pois é, caro leitor, mesmo ficando as memórias, a vida muda, o tempo corre.

 

Tristes realidades

 

No final do ano ficamos a saber que o ganho médio mensal no Alto Minho é de 1057,2€ e em Portugal é de 1247,2. O concelho, no Alto Minho, onde esse ganho médio é menor é o de Ponte da Barca, não ultrapassando os 902,8€, já o maior encontra-se no concelho de Viana do Castelo com 1153€. Ponte de Lima surge a meio da tabela com 960,3€ de ganho médio mensal, logo a baixo de Paredes de Coura com um ganho médio mensal 964,2€.

O nosso distrito continua longe da média nacional. Ainda temos, enquanto comunidade, um longo caminho para percorrer e esse caminho, caros responsáveis políticos, não se faz nem com discursos bonitos, nem com guerrilhas partidárias. Faz-se com ideias, visão e trabalho.