“Não quero ter um momento Cristina Ferreira, quero que o senhor Presidente actue”

0
3291

Mais de uma centena de professores participaram hoje, em Viana do Castelo, numa manifestação de apoio ao colega Luís Sottomaior Braga, que iniciou às 00:00 de terça-feira uma greve de fome em defesa escola pública.

O docente, que hoje recebeu assistência médica por ter sofrido uma quebra de glicemia, saiu da autocaravana onde está a realizar o protesto, instalada junto à escola secundária de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo, para agradecer aos colegas, dirigindo-lhes algumas palavras.

Luís Sottomaior Braga recebeu aplausos e palavras de incentivo dos professores que empunhavam um cartaz onde se lia “Sr Ministro, trate bem os que ainda cá estão”. Em coro, entoaram “Não paramos” e “Escola Unida jamais será vencida” e cantaram o hino nacional. Durante o dia, o professor recebeu a visita de inúmeros colegas solidários com a sua luta e, nas redes sociais, multiplicam-se também as mensagens de apoio. Nos vidros da caravana onde dorme e na tenda de campanha também são visíveis várias mensagens de apoio.

Paulo Cunha, docente que tem estado ao lado de Luís Braga, garantiu que “estes dias têm sido de romaria, com a passagem de milhares de pessoas” pelo local onde está a decorrer o protesto. “Os docentes que apareceram aqui são de todo o país, há pessoas de Viatodos, Vila Nova de Gaia, Espinho, Mafra…”, indicou, adiantando que, nas redes sociais, já começou a surgir a possibilidade de outros professores continuarem a greve de fome quando Luís Braga já não puder mais. “Há mais de 20 pessoas dispostas a substitui-lo quando ele tombar”, disse.

Sentado numa cadeira na tenda de campanha, montada ao lado da autocaravana e de cravo vermelho ao peito, o docente de 51 anos, disse aos jornalistas que está “bem de saúde”, apesar de sentir “algum cansaço e fraqueza muscular”, garantindo que não está a fazer a greve de fome para “correr risco excessivo”. “Há um objetivo de marcar uma posição, mas há o cuidado com a preservação da vida”, frisou, insistindo que dali só sai para o hospital.

Questionado sobre se já teve resposta ao apelo que fez na segunda-feira ao Presidente da República para não promulgar a lei dos concursos, o docente afirmou que “não está à espera de um telefonema”. “Eu não quero ter um momento Cristina Ferreira, quero que o senhor Presidente actue politicamente”. “O senhor Presidente até pode ignorar-me que eu ficarei satisfeito se ele der um sinal muito claro de em relação ao diploma dos concursos tem uma posição política clara”, destacou, referindo que não se “sente sozinho”, que tem recebido inúmeras “palavras de apreço e apoio” e que está “é uma luta dos professores que têm de continuar mobilizados para, por uma vez, a educação ser olhada como um problema de futuro, um problema estrutural do país”.

“Hoje há em Portugal professores pobres”

Docente há 28 anos, Luís Sottomaior Braga declarou que Marcelo Rebelo de Sousa “tem legitimidade política, constitucional para tomar uma medida em relação ao problema educativo”.

“Se fizéssemos uma comissão de inquérito sobre o estado da educação nacional, provavelmente, iríamos ter surpresas mais desagradáveis do que as que estamos a ter com a TAP”, realçou.

Questionado se a demissão do ministro da Educação seria uma solução para os problemas dos professores, Luís Sottomaior Braga respondeu: “Não me parece que seja uma má solução, porque o que se tem passado, nos últimos tempos, não indica que esteja a fazer um grande trabalho, mas se depois continuar a mesma visão política da educação, que já arrasta em alguns assuntos há muitas décadas não vamos resolver absolutamente nada.”

Atualmente no Bloco de Esquerda, o ex-militante do PS pediu que “não transformassem” a forma de protesto que escolheu “numa discussão politiqueira”. “O que estou a fazer é um ato político, mas não é um ato politiqueiro”, declarou. “Hoje falei com muitos professores que me disseram que são pobres. Hoje há em Portugal professores pobres. E vão haver muitos professores reformados pobres. Por isso, a questão dos seis anos, para muitas pessoas, significa a diferença entre serem reformados com uma vida minimamente confortável ou pessoas que vão ser pobres e depender da solidariedade”, alertou.