“Boxe” na Câmara de Viana deixa PSD “sentido”

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A divulgação de um vídeo em que o presidente da Câmara de Viana do Castelo simula a dar murros, com umas luvas de boxe, aos vereadores da oposição deu que falar na reunião do executivo. Os vereadores do PSD foram os mais críticos da postura de Luís Nobre, alegando não poder aceitar desculpas por algo que desconheciam o teor. Luís Nobre fez o “mea culpa”, mas nem as referências religiosas acalmaram o descontentamento de Eduardo Teixeira e Paulo Vale.
Na sequência da divulgação do vídeo na imprensa nacional, a Câmara de Viana do Castelo emitiu um comunicado a explicar que foi gravado na noite da ceia de Natal e que Luís Nobre “num tom de descontração e humor e sem saber que estava a ser gravado de forma oculta o filme para uso indevido, simulou, brincando, para a equipa, um combate de boxe”. Acrescenta que “volvidos cerca de três meses”, o fotógrafo prestador de serviços “com contrato ainda válido à data, partilhou o vídeo referido com algumas pessoas, sendo uma delas um vereador da oposição”, considerando tratar-se de uma “atitude de retaliação e vingança pela não renovação do contrato de prestação de servidos”. O presidente da Câmara reuniu, no início de abril, com todos os vereadores a contar-lhes sobre a existência deste vídeo, pedindo-lhes desculpa pelo mesmo, e a autarquia garante que “todos os vereadores aceitaram o pedido e compreenderam a situação, que apenas visava retirar credibilidade ao autarca”. No comunicado, o autarca Luís Nobre informou ainda que “irá tomar diligências para processar judicialmente o antigo prestador de serviços do Município por difamação”.
Hugo Meira, do CDS, leu uma declaração da vereadora Ilda Araújo Novo sobre a polémica. A vereadora admitiu ter sido informada sobre a existência do vídeo no início de abril pelo presidente da Câmara e considerou que o vídeo é “um incidente dispensável e uma infelizmência imprudente”. Mas, acrescentou que “não se trata de um facto de relevância política minimamente significativo”. “É um embaraço para quem errou, mas mais ainda uma lamentável imprudência por parte parte de quem o divulgou”, citou Hugo Meira, garantindo que “o CDS não ousa usar os erros de ninguém como arma de arremesso, muito menos os que se revestem desta natureza”. “Não passou de uma brincadeira que em nada evidencia qualquer intuito injurioso, é apenas infeliz”, disse, dando nota de que Ilda Araújo Novo aceitou as explicações do autarca e o pedido de desculpas.
O vereador do PSD, Eduardo Teixeira, quis saber quem foi o vereador da oposição com quem o fotógrafo partilhou o vídeo, conforme alega o comunicado da autarquia. O vereador disse ainda que o pedido de desculpas não foi aceite por todos os vereadores. “Não podemos aceitar desculpas de algo que não conhecemos”, justificou. “Ao ver o vídeo ficamos chocados porque foram proferidas palavras menos próprias e a suposta brincadeira, que nos foi descrita, ao usar palavras menos próprias, torna-se num acto menos próprio. Tinha de dizer isto porque quem não se sente não é filho de boa gente”, criticou, defendendo, no entanto, que “o assunto deve ser encerrado porque não dignifica quem o praticou”.
O presidente da Câmara já tinha considerado que este incidente “é uma página virada, em que todos perceberam o que aconteceu”. Na reunião, Luís Nobre, contudo, fez questão de explicar o teor do vídeo, na referência que fez ao vereador Paulo Vale. “Quando faço referência à figura do padre é numa perspectiva de respeitabilidade porque sempre sou católico e sempre encarei essa figura como um referencial. Qualquer outro contexto que se tente dar, é desvirtuar o que esteve na essência do que aconteceu. É uma expressão de respeitabilidade, de alguém que vemos como um líder, com uma forma de estar que é um referencial”, explicou.
Numa intervenção escrita, o vereador Paulo Vale disse que é sobrinho de quatro padres e um deles é bispo. “A título pessoal, não vou cair na hipocrisia de desvalorizar o conteúdo da gravação e dizer que ela não me afecta, até porque, quem não se sente não é filho de boa gente. Mas seguramente não me vai tirar o sono. Não sei se todos poderão dizer o mesmo. Paradoxalmente, há um ponto positivo em tudo isto: ficamos a saber o que o senhor presidente verdadeiramente pensa dos vereadores da oposição. De futuro, e perante uma eventual manifestação pública de afectividade, ficará sempre a dúvida se posteriormente não irá descarregar os seus pensamentos num saco de boxe”, afirmou.  
O presidente da Câmara insistiu que o video foi gravado num determinado contexto e lamentou a falta de solidariedade dos vereadores do PSD, alegando ter sido vítima de um crime. “Vi muita moralidade, mas deve existir em toda a dimensão. Fui vítima de um crime de enxovalhamento também. Não vamos dar aqui uma imagem de evangelho, todos nós fizemos coisas que foram condenáveis fosse com quem fosse. Somos seres humanos, brincamos e há um contexto. Quando tive conhecimento, tive o cuidado de vos pedir desculpa”, reforçou.
Na reunião, os vereadores da oposição manifestaram “estranheza” e “desagrado” por não terem sido informados pelo presidente da Câmara sobre a nomeação do novo comandante dos Sapadores e da passagem do anterior comandante, que tem ainda a decorrer um processo disciplinar, para coordenador municipal da Proteção Civil. “Foi algo que admirou a CDU, até porque está a decorrer um processo de inquérito e seria de bom tom que todos tivéssemos tido conhecimento desta situação e não no dia da tomada de posse”, afirmou Cláudia Marinho. “A decisão do senhor presidente devia ter sido comunicada à vereação antes da sua divulgação pública”, concordou Hugo Meira, do CDS. Eduardo Teixeira, do PSD, também manifestou “estranheza” por não ter sabido que o anterior comandante dos Sapadores transitou de funções através do presidente da Câmara. Luís Nobre alegou que sempre manteve a mesma postura “coerente” em relação ao processo do comandante e considerou que devia continuar a actuar de forma “discreta”.