“A fragilidade das aldeias dos quatro abades tem um potencial incrível”

0
2404

Consideradas um “tesouro ambiental”, as aldeias da mesa dos quatro abades, em Ponte de Lima, têm agora reunido em livro a história e antropologia do seu “território singular, rico em património natural, material e em tradições”. Da autoria de Estêvão Portela Pereira, Carlos Brochado de Almeida e Álvaro Campelo, o livro “As Aldeias da Mesa dos Quatro Abades” foi apresentado no dia em que se cumpriu a tradição junto da mesa de pedra, que se apoia no marco divisório entre as freguesias de Calheiros, Cepões, Bárrio e Vilar do Monte. 

Estevão Pereira, especialista em flora, vegetação e habitats naturais, destacou os “famosos carvalhais” e os socalcos que marcam a paisagem nas aldeias da mesa dos quatro abades. “Na Lagoa dos Salgueiros Gordos, tem uma pequena trufeira que é um habitat sempre interessante, com uma espécie classificada e protegida a nível europeu”, acrescentou o especialista, apontando as plantações de eucalipto e o abandono dos socalcos e pastoreio como as grandes ameaças a este território. Associada a estas ameaças da ocupação florestal e perda das áreas agrícolas, o livro aponta também a perda populacional. Apesar destas fragilidades, estas aldeias representam “um tesouro”, frisou Álvaro Campelo. “A fragilidade destes territórios tem um potencial incrível. Temos um risco demográfico e de abandono das propriedades nesta paisagem humanizada, mas este território tem um património excepcional, material e imaterial”, acrescentou o autor, alertando para a necessidade de conservação de arquitectura vernacular, como eiras. “Estas são autênticas paisagens de jardim que têm de ser trabalhadas”, insistiu, reforçando que a tradição da mesa dos quatro abades é um evento que ocorre “dentro de um tesouro”. “Espero que este livro sirva para lembrar as pessoas que têm este tesouro precioso”, concluiu. 

O presidente da Câmara de Ponte de Lima assegurou que a promoção deste território como um espaço de qualidade “tem sido uma preocupação muito grande do Município”, lembrando as ações que têm sido feitas, incluindo em prol da fixação da população neste “tesouro ambiental”. Vasco Ferraz adiantou que está em curso o projecto que prevê a melhoria dos acessos à mesa dos quatro abades. “O objectivo é não deixar este território morrer porque é um espaço diferenciado e que nos pode ajudar a potenciar o nosso concelho”, reiterou, defendendo “um cuidado muito grande” na compatibilização do espaço natural e património construído com a atractividade turística. “Este livro vem guardar um pouco deste património todo, mas não chega. Temos ainda um longo caminho que vamos percorrer certamente, com os conselhos dos presidentes de Junta e de quem sabe”, rematou.