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“Este ano nem vale a pena haver missas! Vão todos para a Festa das Cruzes!”
Carlos Leme, pároco de Aborim, Quintiães, Aguiar, Panque, Tamel (São Pedro Fins) e Cossourado, no arciprestado de Barcelos, vai liderar uma das mais representativas comitivas na Festa das Cruzes. No dia 3 de maio, data da grandiosa procissão da Invenção da Santa Cruz, as suas paróquias entram em “pausa total”, devido à enorme mobilização dos fiéis para a celebração. “Este ano nem vale a pena haver missas, cancelamos tudo porque se não vão todos, vai muita gente da freguesia, não fica quase ninguém. E eu faço questão de também estar presente”, garantiu o pároco, considerando que a Festa das Cruzes é “um símbolo da fé do povo barcelense”.
“A Festa das Cruzes é um momento alto do concelho e do arciprestado. A procissão com as 89 cruzes das paróquias é uma manifestação de fé de um povo que traz consigo a tradição, a história e a devoção à Santa Cruz. A cruz enquanto causa de salvação é algo que o povo de Barcelos leva com muito respeito e com muita chieira pela Festa das Cruzes”, afirmou o pároco, natural de Celorico de Basto. Pároco há seis anos em paróquias de Barcelos, Carlos Leme é um admirador da grandiosidade desta primeira grande romaria minhota do ano. “É uma festa muito única, não se vê em qualquer lado um concelho que junte as 89 paróquias num só local, é mesmo algo muito bonito. Em Celorico de Basto, onde cresci, há uma grande romaria, mas no meu tempo as festas do concelho não tinham nada de religioso, nada que se compare a isto. Aqui em Barcelos, existe um dia dedicado exclusivamente às celebrações religiosas”, sublinhou, caracterizando-o como o seu momento mais esperado. “Nunca falto ao momento da Invenção da Santa Cruz, só mesmo em caso de doença. Sinto muita chieira como se diz aqui no Alto Minho e muita fé, é uma manifestação muito grande da própria fé. A cidade transforma-se num palco de fé e cultura, onde se cruzam as várias gerações, os visitantes e os devotos”, descreveu, sorridente.
O padre sublinha que há quem vá à Festa das Cruzes pelas celebrações religiosas, pelos espetáculos musicais, pelos carrosséis ou pelas barraquinhas, mas é certo que ninguém quer ficar de fora. “Quase toda a gente tira um dia para passar na Festa das Cruzes, já é tradição. Eu ouço muitas vezes as pessoas a combinar as suas saídas. É também uma maneira de unir a comunidade e combater este tempo de guerra que vivemos hoje”, considera o pároco, confessando que, para além das celebrações religiosas, também gosta de ir para o “forrobodó”. “Eu gosto de festas, gosto de festas religiosas, das procissões e acho que o povo barcelense sabe organizá-las, sabe como fazê-las”, gracejou.
Apesar de notar uma diminuição de pessoas nas celebrações religiosas nas suas paróquias, depois da pandemia, o sacerdote acredita que a Festa das Cruzes não está a perder a sua essência religiosa. “Não acho que a participação na procissão da Santa Cruz e nas Cruzes, em geral, tenha diminuído. A festa continua a ser um elemento forte tanto para a vida cristã como para o próprio concelho de Barcelos. E mais do que isso, é uma festa que ultrapassa bastante os limites do concelho, tem um horizonte muito mais alargado”, frisou o pároco.