Rui Neto quer mais títulos no Óquei de Barcelos

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O triunfo do Óquei de Barcelos na final da Liga dos Campeões de hóquei em patins foi a “cereja no topo do bolo” para o treinador, Rui Neto, que considera a campanha “indescritível” no seu todo. “Deixei de ser um treinador do ‘quase’, tinha ficado pelo ‘quase’ muitas vezes. Entre conseguir e não conseguir, está uma linha muito ténue. No ano passado, perdemos a final da Taça de Portugal com o FC Porto, mas podíamos ter ganho. Falhámos a ida à final da Liga dos Campeões em penáltis, mas, este ano, foi assim que ganhámos. Portanto, isto é importante para materializar os objetivos, vencer, mas só nesse aspeto. É aquele clique mais psicológico”, expressou.

Rui Neto, que também já venceu a competição enquanto jogador, ao serviço do FC Porto, em 1990, lembrou a derrota pesada com que o Óquei de Barcelos iniciou a temporada, também diante dos portistas (6-1), importante para corrigir aspetos psicológicos no seio do plantel, vencer a Supertaça na semana seguinte e encarreirar agora para o triunfo na Liga dos Campeões.

“Da forma como começámos, toda a gente pensaria que esta seria uma época desastrosa. Felizmente, conseguimos inverter esse pensamento. O contexto do jogo com o FC Porto teve particularidades que serviram para puxar os atletas à realidade. Tínhamos o jogo em aberto, depois tivemos um apagão e permitimos um resultado de 6-1. Disse-lhes que tinham capacidade de discutir o jogo, mas que não podiam perder o controlo emocional. Foi esse o grande passo que dei a esta equipa enquanto treinador”, avaliou.

Depois de uma primeira passagem bem-sucedida no clube, em que inclusivamente conquistou uma Elite Cup (2021/22), o treinador voltou a assumir o cargo em fevereiro de 2024, pouco mais de um ano após a saída.

“Costuma-se dizer que a gente nunca deve regressar onde já foi feliz, mas, neste caso, a história inverte-se. Nos dois primeiros anos em Barcelos, tive épocas muito boas. Saí porque, na altura, entendi que as coisas já não estavam a funcionar, a mensagem já não dava a passar e, portanto, foi o melhor para o clube e para mim”, relatou.

Sem esconder que augurava voos mais altos para a sua equipa no regresso, explicou que encontrou uma dinâmica diferente, mais focada no coletivo, ainda que muitos dos jogadores fossem os mesmos, tendo assumido também Rui Neto uma dinâmica diferente no exercício das funções.

“Quando regressei, foi exatamente com a mesma ambição, motivação e objetivos. Simplesmente, fui um pouquinho diferente porque aprendemos com os erros. Sou um treinador ambicioso e, em cinco ou seis meses na época passada, chegámos à ‘final four’ da Liga dos Campeões e à final da Taça de Portugal. Portanto, sim, agora tinha essa ideia [de ser campeão europeu]”, afirmou.

“Resta procurar mais títulos, o campeonato nacional, que nunca ganhei como treinador. Sei que seria um feito enormíssimo ser campeão em Barcelos, porque lutamos na mesma competição, mas as condições não são as mesmas em relação ao FC Porto, Benfica e Sporting, em play-off. Não digo que seja mais difícil ser campeão nacional do que europeu, neste atual formato, em que tivemos de fazer 14 jogos e perdemos apenas um”, concluiu.

Em entrevista à Lusa, o técnico fez a retrospetiva do decisivo encontro diante do FC Porto, em Matosinhos, apenas resolvido nas grandes penalidades (após empate 1-1 no fim do prolongamento), mas lembrou que a crença no feito histórico havia surgido muito antes, num percurso de 16 jogos, contabilizando a qualificação, em que os minhotos perderam apenas um.

Rui Neto não esconde o impacto de ter alcançado o segundo título europeu da história do clube – o primeiro havia sido em 1990/91 -, sendo também um momento que ficará marcado, a título individual, nas carreiras de treinador e jogadores, na sua maioria a vencer a competição de forma inédita.

“Fazer história no clube é uma consequência de conseguir uma vitória para nós. Era esse o meu pensamento, de que tínhamos de fazer história para nós próprios, porque quase todos os atletas que aqui estão nunca tinham sido campeões europeus. Já estávamos a entrar na história do clube, ao participar numa final a que já não íamos há 24 anos, sermos campeões europeus foi a cereja no topo do bolo”, constatou.

A vitória no Dragão, ainda na fase de grupos (4-1), terá sido, para o técnico, o ‘gatilho’ que permitiu encarar com boas perspetivas a prova, numa época em que já haviam conquistado a Supertaça frente aos ‘dragões’.

“Depois da primeira vitória no Dragão, focámo-nos em fazer uma fase de grupos que nos permitisse, depois, encontrar nos quartos de final um adversário teoricamente não tão forte [Liceo da Corunha] – apesar de todos serem fortes, sublinho -, que nos desse acesso à ‘final four’, e aí, com dois jogos, tudo é possível”, explicou.

Chegados a derradeira final, os comandados de Rui Neto depararam-se com algum domínio do FC Porto no primeiro tempo e a consequente desvantagem no marcador, contexto que, no entender do treinador, só pôde ser contrariado com uma grande resiliência mental.

“Sabíamos que teríamos de sofrer porque estávamos a enfrentar um grandíssimo adversário e que, em condições normais, nunca um jogo daqueles iria resolver-se com dois ou três golos de vantagem. Sofremos na primeira parte e depois conseguimos controlar, na segunda, e, com a obtenção do empate, a equipa cresceu e esteve por cima em muitos momentos do jogo”, relatou.

Em partida de emoções fortes, Miguel Rocha, grande destaque da equipa com uns notáveis 72 golos na temporada – 22 deles na Liga dos Campeões, em que foi melhor artilheiro -, até poderia ter fechado as contas no final do período regulamentar, falhando na conversão de um livre direto. 

“A 40 segundos, pensei: ‘Vai ser agora’ e o Miguel Rocha falhou o livre direto. No final do jogo, disse-lhe: ‘Não conseguiste terminar com o jogo naquela altura’. Ele respondeu: ‘Tinhas de sofrer mais um bocadinho até final’. Se ainda não tivéssemos ganho a Supertaça antes, teria pensado que não seria desta”, confidenciou o técnico.

Perante o cenário de grandes penalidades, Rui Neto elogiou o trabalho de Conti Acevedo e garantiu que essa forma de desempate não é uma “lotaria”, mas admitiu que vive muito do momento imediato que os jogadores estejam a atravessar.

“As grandes penalidades e as bolas paradas não são lotaria, mas dependem muito do momento. Podemos estar a treinar a semana toda e chegar a jogo e não fazer nenhum golo. Tem muito a ver com a moral e predisposição do atleta. No caso do guarda-redes, já é diferente, quando se falha um penálti, é muitas vezes esquecido o seu mérito. Tem trabalho e estudo da forma como os jogadores batem”, enalteceu.

Chegado ao ‘cume da montanha’, com a conquista da principal competição continental de clubes, admite a dificuldade em retomar o foco competitivo. 

“Não é fácil para qualquer clube e particularmente para nós, que estávamos há tantos anos sem vencer esta competição e atingimos um feito histórico, indescritível. Já sabemos que isto tem sempre aqueles dias de celebração. Temos de ter o foco no campeonato e tentaremos, mas mentiria se dissesse que foi uma semana normal de trabalho. Tentaremos aproveitar este élan, pondo o foco no próximo jogo”, concluiu.