“O antes e o depois” – 140

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Maria já cuida do seu Menino nas palhinhas nascido. A estrela de Belém já foi passear pelo Universo criado por “Deus”. Os meninos já receberam os presentes trazidos pelo Pai Natal. O Pai Natal já foi a correr nas renas de Dezembro a pensar pelo caminho em outros Natais. Os elfos acordaram numa manhã fria de inverno, onde o sol vem espreitar, e, combinam agora os brinquedos do futuro. Rudolfo, de nariz vermelho, foi cuidar da constipação que sempre o atormenta nesta época do ano. E, o Universo, encontra-se descansado a cuidar dos homens, e das estrelas, afligido com a Natureza que lhe sai ao caminho, desesperada deste pequeno mundo que só se lembra de fazer guerras e estragar a vida dos meninos que deveriam viver a Paz. A pomba da Paz continua distraída, perguntando ao Espirito Santo, quando pode finalmente ir para casa cuidar dos filhos, em vez de ali ficar a cumprir seu desígnio de olhar o mundo sempre de asas abertas, enquanto o mundo sem jeito, continua a lançar bombas sobre as casas de gente inocente.

O Espírito Santo um dia há de responder a estas perguntas, dizendo àquela pomba faladora, que o deixe em paz e vá para casa cuidar dos filhos, podendo finalmente fechar as asas em abraços inesgotáveis e carinhos de meninos abandonados e carenciados. Os brinquedos já jazem por ali a aguardar outras festas de meninos privilegiados de países sem guerras, enquanto outros choram num inverno sombrio que se aproxima, cheio de neve e temperaturas inumanas. E, outros ainda, jazem em mundos de calores do deserto, de armas que não são de brincar e a que o menino Jesus se esqueceu de retirar as balas, deixando que pessoas morram às mãos destes meninos soldados que não sabem que a infância é para brincar e não obedecer a adultos malcriados e zangados com o mundo.

Outros meninos no colo de sua mãe, já nascidos nestes dias, em campos de refugiados, sem palhinhas, choram de fome esperando que o mundo se redima das guerras que não param, dos lucros das armas de homens esquecidos de sua mãe, que vendem o seu coração e a alma ao diabo, por mais uns milhões, de armas ao relento, de aviões sofisticados, de drones que procuram e matam os meninos e as suas mães, que fogem desarvorados por ruas sem saída e estradas sangrentas, vermelhas, de pés descalços que correm. E o mundo continua, hoje igual a ontem, o 24 igual ao 25, o 31 igual ao 1. Somente antes 2022, depois 2023, outra vez e outra vez, com os homens no mundo desorientados em guerras fratricidas. Enquanto meninos recebem armas de brinquedo outros meninos continuam a receber armas a “sério”. Feliz Natal 2022 e Bom Ano Novo 2023 a todos

Livro a ler:

A Criação do Mundo

de Miguel Torga