População manifestou-se contra “fedor” de aterro e Resulima fez “operação de boa vizinhança”

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A população e autarcas de 11 freguesias de Barcelos, Esposende e Póvoa de Varzim manifestaram-se, este sábado, contra o “fedor” que dizem emanar do aterro sanitário do Vale do Lima e Baixo Cávado, a funcionar há um ano em Paradela, Barcelos. Munidos com cartazes e tarjas, os manifestantes caminharam até ao aterro e demonstraram, de forma pacífica, o desagrado em relação ao seu funcionamento. A Resulima, empresa que gere o aterro, abriu as portas e tentou responder às críticas da população.
O presidente da Junta de Freguesia de Laúndos, Félix Marques, que tem vindo a liderar a contestação, disse à Lusa que o cheiro “é insuportável” e se faz sentir, sobretudo, ou de manhã ou à noite. “É um cheiro insuportável, um fedor que não se aguenta”, referiu. Félix Marques disse ainda que aos maus cheiros pode vir a juntar-se, no futuro, a contaminação dos solos e das águas por materiais pesados. “O problema é que o aterro não está a funcionar como deve ser. Não é feita triagem, a ETAR [estação de tratamento de águas residuais] não está a funcionar, o lixo está amontoado a céu aberto na parte de trás”, referiu. Garantiu que a luta “não vai parar” até que seja restituída às populações “a qualidade de vida perdida”.
A Resulima recebeu ao portão os manifestantes e deu a conhecer as medidas tomadas e em curso para minimizar os incómodos sentidos pela população. Esta “operação de boa vizinhança” permitiu “ouvir a população, receber reclamações, esclarecer as medidas que estão a ser implementadas, agendar reuniões e visitas e encontrar formas de compensar a comunidade pelos incómodos sentidos”, referiu a empresa, que teve uma equipa a falar com os manifestantes e garantiu que “os pedidos e reclamações apresentados serão respondidos no prazo máximo de 15 dias”.
Esta ação da Resulima não foi bem acolhida pela Junta de Freguesia de Laúndos. “É lamentável que apenas mostrem receptividade para “abrir portas” e de agir nos momentos de maior agitação e num dia sem o movimento habitual de camiões, quando a própria Resulima na reunião da Comissão de Acompanhamento do Aterro do dia 15 de dezembro de 2022 (disponível no site da CCDRN para consulta) defendeu que era “prematura” a participação do Município da Póvoa de Varzim nessa comissão”, escreveu a junta nas redes sociais. “É lamentável terem aproveitado a manifestação para fazer esta ação de comunicação, chegando ao ponto de reconhecer em público (e ao fim de um ano) que existe um grave problema ambiental e de dignidade humana”, acrescentou.
Em janeiro deste ano, depois de uma segunda vistoria, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) anunciou que “estão reunidas as condições” para a emissão das licenças de exploração que ainda faltam para aquela estrutura.
O organismo ressalvava, no entanto, que a emissão das licenças devia incluir, como condições ou medidas, a criação de uma barreira cénica e a implantação de uma cortina arbórea no extremo sul da instalação, no prazo máximo de dois meses.
Outra condição é a apresentação, também no prazo de dois meses, dos resultados do “Estudo de avaliação de medidas adicionais de mitigação da emissão de odores”, com indicação detalhada do planeamento das novas medidas adicionais a implementar.
No mesmo mês, a Resulima garantiu que tem vindo a implementar “várias medidas operacionais” no sentido de otimizar o processo produtivo, com o “objetivo primeiro” de minimizar qualquer impacto nas populações vizinhas.
A Junta de Laúndos já recorreu às instâncias da União Europeia para denunciar que os fundos utilizados pela Resulima “prejudicam gravemente a qualidade de vida” das populações vizinhas. Por sua vez, a Câmara da Póvoa de Varzim anunciou a interposição de uma ação judicial contra o Estado, por considerar que não existiu fiscalização suficiente ao aterro.