Santoinho encheu alunos estrangeiros de “MeMinhos”

0
730
Aprender danças tradicionais, visitar os museus dos Trajes e dos Transportes da Fundação Santoinho, participar no afamado arraial ou aprender surf bodyboard foram algumas das actividades em que mais de 20 alunos estrangeiros que frequentam o Agrupamento de Escolas Monte da Ola, em Viana do Castelo puderam participar. A iniciativa “MeMinho” está integrada no projecto “AproximAR-TE” do Erasmus+ Globe, coordenado pela Escola Superior de educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo .
Foi na eira exterior do Santoinho que os alunos, acompanhados pelas professoras e familiares, puderam aprender algumas danças tradicionais. Mafalda Rego foi a paciente e divertida professora de dança, explicando cada passo com detalhe e até houve tempo para aprender a coreografia do “Verde Gaio”, que mais tarde ia ter tocada e dançada pelo Grupo Etnográfico da Areosa no arraial de Santoinho. “Quero vê-los a todos a dançar connosco”, incentivou Mafalda Rego.
Antes do workshop de dança, os alunos já tinham participado numa aula de surf bodyboard, no Cabedelo, com o apoio do Surf Clube de Viana, onde também foi entregue a cada família o kit “MeMinho”, que inclui acessos gratuito a diferentes equipamentos culturais no concelho. Depois da dança, o grupo visitou os museus dos Transportes e do Traje, da Fundação Santoinho, numa visita guiada por Rosa Portela que deliciou os mais novos e a família com as histórias e pormenores de cada peça. O dia terminou da melhor forma com a participação no arraial de Santoinho.
O número de alunos  imigrantes a entrar no Agrupamento de Escolas Monte da Ola é cada vez mais significativo, vindo de diversos países como Colômbia, Cuba, Luxemburgo, Ucrânia, Venezuela, entre outros. A “grande maioria” chega do Brasil. Nicole Silva, de 15 anos, frequenta o 8º ano na Escola Carteado mesa há cerca de um ano, mas já veio com a família do Brasil para Portugal há quatro anos. “Inicialmente, a adaptação foi um pouco difícil, mas depois habituamo-nos”, realçou, mostrando-se agradada com a iniciativa no âmbito do projecto “MeMinho”. “Aprendemos coisas que não aprendemos na escola. Nunca tinha vindo ao Santoinho e ficamos a conhecer a cultura deste local”, declarou, notando que o dia foi também de convívio entre todos.
Carlos Santos veio do Brasil com a família para Portugal há sete meses, tendo-se instalado em Viana do castelo há dois meses. “A adaptação não correu mal. Gostei muito do dia de hoje porque permitiu conhecer um pouco mais da cultura portuguesa”, vincou o aluno do 8º ano, considerando que este tipo de iniciativas ajuda à integração dos alunos e das suas famílias, apesar de no próximo mês a família deixar Viana do Castelo. “Vamos morar para o Algarve”, revelou.
Os irmãos Brian e Sofia Gonçalves chegaram de Luxemburgo há cerca de seis meses e frequentam a Escola Carteado Mena. A mãe é de Viana do Castelo e o pai é de Barcelos e o facto de falarem sempre português em casa com os pais facilitou a integração no estabelecimento de ensino. “Adaptei-me bastante bem”, considerou Sofia, que frequenta o 9º ano, mostrando-se agradada com o dia de actividades. “Nunca tinha visto nada disto e estou a adorar”, considerou. A mesma opinião foi partilhada pelo irmão, aluno do 7º ano, que se mostrou entusiasmado com as iniciativas em que participou. “Gostei de fazer manobras com a prancha”, gracejou.
Antonela Aguiar está em Viana do Castelo há cinco anos frequenta o 5º ano na Escola Básica e Secundária de Monte da Ola. “Correu sempre tudo bem”, afirmou a aluna que, anteriormente, morava com a família na Venezuela. Do dia de actividades destacou a aula de dança com Mafalda Rego. “Neste grupo só conhecia uma menina e foi bom para conhecer outras pessoas”, garantiu.
Carminda Lomba, a professora bibliotecária que faz parte da equipa do programa Erasmus e do projecto Globe, explicou que o projecto tem como ponto de partida o grande fluxo de alunos imigrantes que diariamente chegam à escolas, trabalhando “o sentido de pertença a uma comunidade”. “O que se pretende é que as pessoas e a região se cruzem numa espécie de cesta de afectos”, vincou, explicando que o kit “MeMinho” ajuda nessa descoberta. “O projecto tem como ponto de partida o grande fluxo de alunos imigrantes que diariamente chegam ao nosso Agrupamento  e tem sempre presente os objetivos de desenvolvimento sustentável, nomeadamente a educação de qualidade e a redução das desigualdades”, salientou.
Luís Neves, docente na ESE e coordenadora do projecto, considerou que a experiência tem sido “muito positiva”. “Em conjunto com outros países, vamos melhorando as nossas práticas e actualizando. Já há uns anos que temos tido projectos na área da cidadania e desenvolvimento e objectivos de desenvolvimento sustentável”, salientou, defendendo que “tudo o que possa melhorar e tornar o sistema educativo mais inclusivo é sempre positivo”. “As escolas já trabalham estes temas, mas este tipo de projectos permite criar um espaço onde as pessoas podem, de alguma maneira, inspirar.se para fazer diferente e ganhar mais alento para continuar, percebendo que não estão sozinhas entre escolas”, sustentou, frisando que a presença de alunos estrangeiros nas escolas é uma realidade cada vez mais presente. “Há uma percentagem significativa de alunos que vêm de fora e muitas vezes não é fácil as pessoas integrarem-se em contextos que são muito diferentes dos seus e estas actividades só podem ajudar”, salientou.
Rolando Correia Viana, sub-director do Agrupamento de Escolas de Monte da Ola, frisou que é já prática comum destas escolas participarem em actividades do projecto Erasmus + Globe, frisando que o tem que está a ser abordado concretamente, os alunos imigrantes, tem tido “bastante impacto” na dinâmica da comunidade educativa. “Cada vez recebemos mais alunos de diferentes países e a comunidade é cada vez mais diversificada e, obviamente, é um desafio para todos, sobretudo para os profissionais da educação”, declarou, salientando que um dos objectivos da iniciativa passa por apostar na qualidade da educação. “E este ano lectivo tem sido bastante difícil, não só para os professores como para os pais”, frisou.