“No Santoinho, sente-se o cheirinho da romaria”

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No Santoinho, a romaria é semanal e atrai sempre centenas de “romeiros”, que vibram com a cor, luz e alegria do arraial minhoto. Na semana anterior à Romaria da Senhora d’Agonia, a “catedral” voltou a encher num animado convívio, com sardinhas a pingar no pão e champarrião a jorrar das canecas.

Um grupo com 103 seniores do concelho de Vila Real foi dos mais numerosos num dos arraiais de Santoinho da última semana. Oriundos da União de Freguesias de Nogueira e Ermida, os idosos estavam a desfrutar de um passeio comunitário e a escolha pelo Santoinho foi óbvia pela vontade em conhecer o Minho. “Já tínhamos ouvido falar do Santoinho porque outras juntas de freguesia já tinham feito passeios até aqui. Este ano, lembramo-nos de finalmente vir conhecer o Minho”, contou Paulo Ferreira, presidente da União de Freguesias de Nogueira e Ermida.

“O Minho é uma maravilha, um espectáculo”, considerou Augusto Bento Corte, participante de 71 anos neste passeio. “Quem vai do Minho para o Douro, ama o Douro, mas nós viemos cá e passamos a amar o Minho”, acrescentou. “O Santoinho é um espaço ideal para ficar a conhecer o Minho, aqui vivemos o verdadeiro arraial minhoto. Eu também nunca tinha cá estado e estou a gostar. Há muita gente, há muitas filas e com os idosos é complicado, mas é uma experiência que está a superar as expectativas”, afirmou o autarca transmontano, considerando que as sardinhas “estavam muito, muito boas”. “São melhores do que as de Vila Real”, gracejou, garantindo que a idade não impediria que muitos destes idosos saltassem para o centro do arraial para dançar o Vira geral.

A poucos dias da Romaria d’Agonia, este grupo até gostaria de ter ficado para as maiores festas vianenses, mas coincidem com as festas das suas aldeias. O presidente da Junta já participou várias vezes na Romaria d’Agonia porque faz parte da Banda de Música de Nogueira, que tem actuado nas festas. “É uma romaria típica do Minho e o público é bom”, referiu o autarca, que sabe dar música ao som do clarinete.

José Carvalho também esteve pela primeira vez no Santoinho, mas já conhece Viana do Castelo há muito. Antigo trabalhador dos caminhos de ferro, este idoso transmontano de 80 anos habituou-se a ver Viana e o Alto Minho a partir da linha do comboio. “Guardo muito boas recordações de Viana. Até vêm-me lágrimas aos olhos quando cá venho. Tenho saudades disto. Apesar de ser transmontano, gosto muito do Minho e adoro a Romaria d’Agonia… deixou-me muitas saudades”, afirmou José Carvalho, admitindo que com a visita ao Santoinho sentiu “um cheirinho” da romaria.

Em pleno mês de agosto, “o maior arraial minhoto do país” é procurado também por centenas de emigrantes, ávidos por sentir o cheiro da sardinha assada e a alegria contagiante da festa para matar saudades do Minho.

Um grupo com 20 familiares e amigos aproveitou as férias em Melgaço para dar um salto ao Santoinho e festejar os 50 anos de uma amiga francesa. “Ela gosta deste ambiente da festa, que é bom para celebrar o aniversário”, contou Anabela Esteves, filha de emigrantes de Melgaço, que já nasceu em França. “Eu não vou à Romaria d’Agonia porque também tenho a festa lá em cima”, justificou a emigrante, que esteve pela primeira vez no arraial. “Estas são as minhas primeiras sardinhas e estão muito boas. Na França não há sardinhas assim, são mais pequenas”, gracejou.

Numa das mesas do centro do arraial, com vista privilegiada para a actuação do Grupo Folclórico de Viana do Castelo, destacou-se um grupo só de mulheres. As 15 amigas e funcionárias da creche Beija-Flor, em Viana do Castelo, foram festejar o final do ano lectivo ao Santoinho. “Somos uma equipa de 19, mas hoje só estamos 15. Já vimos ao Santoinho há muito porque este arraial é espectacular para nos divertirmos e convivermos”, afirmou Vera Ribeiro, funcionária da creche onde estão 69 crianças. “O que mais gostamos é a cultura que nos é transmitida com a actuação do grupo folclórico, a música popular e o divertimento”, acrescentou Vera, que, com as amigas, cantou, dançou e marchou no meio do arraial, com os arcos da marcha de Santoinho. “O Santoinho é um aquecimento para a Romaria d’Agonia. Estamos às portas da romaria e queremos continuar a festa”, assegurou.

De Mira, Miguel Arrais distribuiu beijos e danças no centro do arraial. Veio com um casal de amigos, um deles de S. Paio de Antas, em Esposende. “Há três ou quatro anos que vimos ao Santoinho porque gostamos deste pessoal do norte, é gente boa”, contou Miguel, emigrado há 20 anos em França.

Verde Gaio regressou à “casa-mãe”

Dez anos depois de ter actuado no arraial, o Rancho Folclórico Verde Gaio, do Centro Cultural Português de Santos, no Brasil, regressou ao Santoinho e foi o protagonista de uma animada noite de cor, luz e alegria. Aproveitando o embalo do encerramento do programa comemorativo dos 50 anos do Santoinho, o grupo luso-brasileiro cantou e dançou num arraial de terça-feira, que contou também com a presença do Rancho Folclórico das Lavradeiras de Vila Franca, grupo residente do Santoinho. “O Santoinho representa muito para nós. É a mostra do folclore minhoto, das tradições, usos e costumes. Ficamos muito honrados em poder representar Portugal no Santoinho”, afirmou Wallacy Andrade, porta-voz do grupo de raízes portuguesas, que participa na recriação do arraial do Santoinho em Santos.

“Este grupo, que veio festejar o encerramento dos 50 anos, recria o arraial de Santoinho em Santos, respeitando toda a tradição da cultura minhota”, enalteceu Valdemar Cunha, presidente da Fundação Santoinho. “A fotografia tirada no arraial será enviada para o Centro Cultural Português de Santos para transmitir a energia e a vida do nosso Santoinho, a casa-mãe, com a sua ‘discípula'”, acrescentou.