S. Martinho “inclusivo” une criança se idosos na Quinta de Pentieiros 

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O S. Martinho não trouxe o desejado “verão”, mas a Quinta de Pentieiros não deixou de organizar o magusto tradicional, tendo o pavilhão do Centro Educativo das Lagoas reunido quase duas centenas de alunos, a que se juntaram os utentes da Associação dos Amigos da Pessoa Especial Limiana (AAPEL), do Lar Santa Maria do Lima, Centro Social e Paroquial da Correlhã e do Centro Paroquial e Social de Fontão. 

Apesar da fogueira tradicional ter sido realizada no exterior do pavilhão, os alunos não deixaram de se “pintar” com o sarranho das castanhas. “Gostamos muito de nos sujarmos uns aos outros”, riu-se Maria Araújo, de nove anos, que estava, na fila, ao lado das suas amigas Leonor Leones e Gabriela Pereira, para comer as suas castanhas, segurando os cartuchos que tinham feito. 

Mariana Silva e Maria Leonor, ambas com oito anos, depressa ficaram com as caras sarranhadas.  “Adoramos fazer isto. É muito divertido e faz parte da brincadeira”, riram-se as meninas das freguesias do Fontão e de Moreira do Lima. “Eu não gosto de castanhas. Só gosto de pintar a cara”, atirou, com um sorriso, Maria Leonor.  Outra criança do Centro Educativo das Lagoas também gostou de ter a cara suja, mas prefere provar uma boa castanha. “Às vezes, coloco castanhas no meio do pão. Os meus pais têm castanheiros e costumo apanhar com eles os ouriços. Nunca me piquei”, assegurou a criança que aproveitou para sujar uma das suas amigas

Sofia Vimioso, animadora sociocultural do Lar Santa Maria do Lima, em Ponte de Lima, congratulou-se a realização da iniciativa que juntou as várias gerações. “Estamos a reviver as tradições e os idosos aproveitam para partilhar as suas experiências. Além disso, aproveitam para sair um pouco do lar e interagem com as crianças”, salientou a animadora de 45 anos, indicando que o lar, no ano passado, realizou um magusto para os utentes e funcionários. “Pintamos as caras dos idosos com as cinzas e eles gostaram muito dessa brincadeira”, garantiu. Eduardo Fernandes, utente do lar de 76 anos, ficou feliz por conviver com as crianças. “Gostei de ver os pequenos a brincar”, confidenciou o homem, natural da freguesia da Facha que se lembra-se de brincar, em criança, nos magustos da freguesia. “As pessoas punham a mão na fogueira e sujavam a cara. Saía de lá todo preto”, riu-se. “As pessoas juntavam-se todas à volta da fogueira e nos dias muito frios aquilo dava para aquecer. Gostava de correr para apanhar as castanhas na fogueira,” recordou Eduardo Fernandes, que também gostava de comer caldo verde e provar vinho novo nos magustos.

Neste magusto, ainda houve tempo para assistir à atuação da Tuna Feminina da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima e à encenação da lenda de S. Martinho pela Associação dos Amigos da Pessoa Especial Limiana (AAPEL). “Os nossos utentes gostam muito desta atividade. Quando chega outubro eles perguntam logo se nesse ano vão fazer a peça e já conhecem muito bem a história”, confessou Nuno Sousa, diretor técnico na AAPEL, acreditando que a lenda de S. Martinho ensina valores importantes aos utentes. “Como a partilha e a empatia. São valores que queremos incutir nos nossos jovens com deficiência”, ressalvou, salientando, ainda, a importância de marcar presença no magusto. “O S. Martinho é festejado por todos nós  e os nossos utentes também gostam de estar incluídos nestas tradições e nestas atividades. Também temos o convívio com as crianças e os utentes também têm a oportunidade de ver antigos professores ou auxiliares do seu tempo de escola”, acrescentou. Márcia foi uma das utentes que participou na peça de teatro. “Gostei de participar na peça porque é uma coisa muito bonita e mostramos por que é que há estas castanhas todas para comer”, declarou a utente que aproveitou para conviver com os seus amigos. “Podia estar mais sol, mas não somos nós quem mandamos. Contudo, deu na mesma para acender a fogueira”, notou Márcia.

Diamantino Rocha, que trabalha na manutenção na Quinta de Pentieiros, foi o responsável por controlar a fogueira. “Há 13 anos que faço isto e foi a primeira vez que tive chuva. Porém, no meu trabalho já estou habituado à chuva”, frisou, desvendando o truque para uma boa fogueira. “A gravalha tem que estar bem seca”, referiu, lamentando que o magusto não tenha sido realizado na Quinta de Pentieiros. “Fazer  na quinta era muito melhor. É ao ar livre e tem mais espaço. Contudo, as crianças têm muito espaço para brincar aqui”, enalteceu Diamantino Rocha.

Susana Ferreira, colaboradora na Quinta de Pentieiros, afirmou que foi uma boa solução organizar a festa de S. Martinho entre portas. “A mensagem foi passada para as crianças e elas tiveram uma manhã inesquecível”, declarou uma das responsáveis pela organização do magusto.  “O objetivo  é também juntar as diferentes gerações e manter vivas estas tradições. Além disso, mostramos às crianças a importância do meio rural”, vincou a mulher de 45 anos natural de Calheiros. “Os meus magustos eram espetaculares. Lembro-me perfeitamente de assar as castanhas e de ficarmos todos enfarruscados. Fiquei muito contente quando me disseram que ia fazer parte da organização porque isto faz-me lembrar a minha infância”, confidenciou.

Gonçalo Rodrigues, vereador na Câmara Municipal de Ponte de Lima, concordou com Susana Ferreira. “Estas atividades apelam à necessidade da preservação das tradições. O magusto é uma das atividades tradicionais que se mantém viva e nós fazemos questão de assinalar todos os anos de forma inclusiva e com a participação de todas as gerações. Será também um momento para se falar um bocadinho de ambiente e do mundo rural”, salientou.