“A arte pública é a mais democrática porque comunica directamente com as pessoas”

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A comemoração dos 50 anos do 25 de Abril foi o mote para criar novos murais na Rua 25 de Abril, na escola sede do Agrupamento de Escolas Muralhas do Minho e fachada do Centro Coordenador de Transportes em Valença. A iniciativa decorreu no âmbito da segunda edição do Circuito de Arte Pública, organizado pelo artista valenciano João Fortuna, da organização artística Fome, em parceria com a Câmara Municipal.
Na Rua 25 de Abril, o artista Vaco Maio quis tirar partido da horizontalidade do muro para criar uma espécie de narrativa visual com diversos elementos associados a esta data histórica, como Movimento das Forças Armadas, o povo e ainda um outro ícone que simboliza a “promessa de um país livre”.
Já no mural junto ao Centro Coordenador de Transportes, o artista Jorge Charrua pretende fazer uma “justa posição de uma memória do passado com alguém do presente”, de forma a fazer “uma ligação do que perdurou”. “Apesar de ser uma marca importante da história da democracia portuguesa, creio que é importante não cristalizar a data e fazer uma reflexão daquele que é o nosso papel para a manutenção desses direitos consagrados”, sustentou.
Numa das paredes da escola sede do Agrupamento de Escolas Muralhas do Minho salta à vista a a imagem de uma mulher com cravos, destacando-se a frase “estes cravos precisam de água”. “Num contexto em que parece que há conquistas que podem dar uns passinhos atrás, eu queria trazer uma mulher como rosto para este mural”, explicou a autora da pintura, Patrícia Mariano. Vincando o “peso das mulheres” na história da revolução, apontando como exemplo a que distribuiu ps cravos que deram a imagem a este momento histórico, a artista espera que esta instalação artística seja inspiradora para os mais novos. “Com a frase, alertamos que temos direitos conquistados, muitos para conquistar e nunca nos podemos esquecer que os que temos podem sempre voltar atrás”, alertou.
João Fortuna coordenou este circuito de arte pública e não tem dúvidas que o tema para este ano não poderia ter sido melhor escolhido. “É importante assinalar este marco histórico, principalmente numa altura em que se vivem momentos conturbados na política nacional . A pintura é um exercício de liberdade e nestes 50 anos este projecto tem outro gosto porque a arte pública é a mais democrática. Comunica directamente com quem quer e não quer”, vincou o jovem valenciano de 32 anos, frisando que “as temáticas abordadas pelos artistas funcionam como um trabalho de memória colectiva”. Apesar de já ter deixado a sua terra natal há alguns anos, o também artista plástico não esconde o orgulho ao coordenar este projecto que já permitiu embelezar seis espaços diferentes na cidade. “E pretendemos continuar”, assegurou o artista plástico.
José Manuel Carpinteira, presidente da Câmara Municipal de Valença, notou que o resultado da segunda edição do Circuito de Arte Pública “preserva a memória do 25 de Abril”, frisando que os três murais ajudam não só a “embelezar a cidade”, mas também “trazem dinâmica artista” a Valença.