Beto, o engenheiro da baliza do SC Vianense

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Aos 25 anos, João Alberto Vieira Silva já enverga o emblema do SC Vianense há 19. Mais conhecido como Beto, é guarda-redes na equipa sénior do histórico clube da cidade de Viana, depois de ter percorrido todos os seus escalões de formação. Após 19 anos de “casa” diz, entre sorrisos, não saber jogar “noutro lado”.

Foi pela mão do seu pai, também ele ex-guarda redes da formação do Vianense e também do Viana Taurino, que Beto entrou pela primeira vez no estádio Doutor José de Matos, ali bem perto da sua casa. Sabia ao que ia, mesmo quando os primeiros treinadores incentivavam os “traquinas” a “jogar e conhecer” todas as posições do campo. “Mister, só jogo se for à baliza”, reagiu Berto à directiva do primeiro treinador, convicto sobre ao lugar no campo onde queria crescer. E assim foi. “Fui campeão nas Escolinhas em futebol de 7 com o mister Gilberto e também nos júniores, com o mister Jó Franco”, recorda Beto nesta visita ao passado, numa altura em que as referências no clube eram os guarda-redes Vítor e Paulo Cunha. “Na minha infância cresci a ver jogar o Vítor. Hoje, é meu colega no Vianense e tem-me ajudado no meu percurso”, afirma, recordando também outras figuras importantes com quem se cruzou no Vianense. “Durante a minha formação, aprendi muito também com o senhor Magalhães e o senhor Fernando, que são os responsáveis pelo treino específico nos escalões de formação do Vianense”, relembra Beto que, apesar de sonhar sempre com outros patamares, reconhece que conciliar o trabalho com o futebol acaba por não ser fácil. “Quem não gostaria de chegar mais longe? Trabalho sempre para ser melhor e gostaria dessa possibilidade, mas não vivo obcecado com isso”, garantiu.

“Sou licenciado em engenharia mecânica e entrei este ano no mercado laboral. Tive que me adaptar na fase inicial, mas, neste momento, estou satisfeito com a forma como as coisas me estão a correr”, afirmou o jovem guarda-redes de 1,89 m e 91 quilos, que apesar da estampa física se define como um guardião “seguro, completo e com boa percepção de jogo”, mas que não é dos que faz “defesas muito vistosas”.

Beto começou a época no banco de suplentes e só defendia a equipa nos jogos da Taça de Portugal. Contudo, o facto de o guardião iraniano Taha ter ficado contagiado com o novo coronavirus, em finais de novembro, ditou a titularidade de Beto no controlo da baliza do Vianense. “O azar de uns é a sorte de outros e agarrei a oportunidade que tive”, reconheceu Beto, afirmando que vai trabalhar para merecer continuar a jogar e a ajudar a equipa a atingir os seus objectivos. “Começamos mal devido à nossa inexperiência. Num campeonato, em que o erro se paga caro, acabamos por sentir naturais dificuldades”, reconheceu. “A partir do momento em que começamos a ser mais objectivos e concentrados, sem cometermos muitos erros, acabamos por ser mais competitivos e, graças a isso, conseguimos resultados positivos”, apontou.

Beto está optimista quanto ao futuro do Vianense num campeonato que considera ser “muito equilibrado”. E com ajuda do treinador Miguel Mota acredita que é possível. “É um treinador muito tranquilo, sereno e coerente. Não se desequilibra emocionalmente e essa confiança e tranquilidade passa para os jogadores”, afirma o guarda-redes que ficou surpreendido com “a qualidade de um miúdo” que não conhecia nos primeiros treinos. “Estou a falar do Rodrigo Vieira. Surpreendeu-me pela sua confiança e, se tiver oportunidades, pode chegar longe”, afiança o guarda-redes que destaca dois jogos onde acredita ter realizado as melhores defesas da época. “Contra o Pedras Salgadas acabei por fazer talvez a defesa mais importante e difícil, quando o jogo estava 2-1, e contra o Vidago, fora de casa, desconfiei que o nosso central pudesse cortar uma bola para dentro da baliza e acabei por acertar e evitar o golo”, conta Beto.

Na memória de Beto continua ainda o episódio mais triste que viveu com as cores do Vianense. “Sem dúvida que foi aquele jogo em Paredes de Coura, em que perdemos o campeonato para o Limianos. Foi marcante”, afiança, mas a subida pelos júniores e o título dos séniores da época passada contrapesam com a difícil jornada de Paredes de Coura. “Ganhar um campeonato e não poder festejá-lo com os colegas acaba por não lhe dar o mesmo sabor de outros títulos, como aquele no escalão de juniores com o mister Jó Faria, frente ao Barroselas”, reconhece Beto, que admite que sente a falta do público nas bancadas, mesmo dos adeptos do adversário. “Motivam-me as críticas vindas da bancada”, atira. “Gosto de sentir a pressão do público adversário, sobretudo, fora de casa, mas temos que estar sempre focados no jogo, com ou sem público”, afirma o guarda-redes vianense que não perde a esperança de ver um dia, o seu Vianense, no escalão mais alto do futebol. “Até já sonhei com isso! Mas toda a gente sabe que é muito difícil”, reconhece.

“O Vianense é um grande clube, mas com muitas limitações fruto da região em que se insere e que com pouco tem feito muito”, diz. Acerca do seu futuro, Beto diz que gostava de acabar a carreira no Vianense desde que a vontade do clube seja essa, mas antes quer continuar bem agarrado ao lugar pelo qual luta desde 2001, altura em que pela primeira vez defendeu a baliza azul do clube de Viana do Castelo.