Futebol no feminino está a crescer no Alto Minho, mas precisa de mais coordenação e apoio 

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São oito os clubes que estão a apostar no futebol feminino no distrito de Viana, sete estão no interdistrital e um no campeonato nacional. No distrito, existe ainda o caso único do Âncora Praia, que tem uma equipa feminina a disputar o campeonato de benjamins masculino. No futsal, são cinco os emblemas que têm equipas femininas, com destaque para o Santa Luzia que está na elite do futsal nacional. Tem sido lenta a afirmação do futebol feminino no distrito, mas existe vontade e entusiasmo para que, nos próximos anos, aconteça uma mudança assinalável, nomeadamente com mais clubes a ter equipas femininas e, por arrasto, um aumento do número de praticantes. No entanto, para que isso seja uma realidade é obrigatório criar melhores condições nas instalações desportivas dos clubes e a AFVC ter uma intervenção mais próxima junto dos clubes. 

 

“Santa Luzia tem ambição de ter mais equipas, mas está limitada nos espaços de treino”
O Santa Luzia é a bandeira do futsal em Viana, tem a equipa sénior no campeonato da I Divisão da Liga Feminina de Futsal, uma equipa de juniores no Interdistrital de Braga e mais algumas atletas a competir numa equipa mista no interdistrital masculino de Iniciados. Um trabalho de muitos anos, mas que ainda necessita de dar um passo em frente nos escalões de base para ter estabilidade no futuroO presidente do Santa Luzia, Rogério Martins, vive o dilema entre a vontade de ter mais equipas e a dificuldade em conseguir locais e horários para treinar. “Temos a ambição de ter mais equipas, mas estamos limitados aos espaços de treino. Primeiro temos de arranjar mais espaços para treinar e dentro de um horário que seja compatível para os mais jovens, depois vamos partir para a angariação de atletas, sendo para isso fundamental criar um protocolo com as escolas”, explicou.Ter um pavilhão próprio já foi uma pretensão do Santa Luzia, mas é um projeto difícil de concretizar. “Claro que já pensamos em ter um recinto só nosso, mas estamos a falar de algo que envolve milhões de euros, com o terreno, a obra e depois a manutenção do equipamento”, justificou. Rogério Martins está satisfeito com o trabalho desenvolvido recentemente pelos responsáveis do futsal na AFVC. “O futsal em Viana esteve uma série de anos estagnado, mas de há um ano para cá a AFVC está a fazer um trabalho positivo, incentivando os clubes à criação de novas equipas. Se continuarem com esta dinâmica daqui a dois ou três anos vamos ter o futsal no auge. Ainda é o início, mas estamos no bom caminho. Chegamos a ter 13 equipas femininas do distrito a competir e se dermos continuidade ao trabalho que está a ser feito isso pode voltar a acontecer. Contudo, os clubes só por si não conseguem, é crucial o apoio da AFVC”, vincou. O surgimento do futebol feminino em vários clubes “condiciona” a prática de futsal e, por isso, é importante uma proximidade às escolas. “Acredito que condicione os clubes, tenho conhecimento de casos que passaram do futsal para o futebol, mas também sei que algumas voltaram ao futsal. Volto a salientar a importância de ir às escolas e estar no desporto escolar, só assim podemos cativar as atletas a ingressar no futsal”, referiu.

 

“Castanheira viu o futsal moribundo, mas agora voltou a ser aposta”
O presidente do Castanheira, Albano Sousa, é um nome incontornável no futsal feminino. Está no clube desde a sua fundação, em 1980, apenas com uma paragem de dois anos para cumprir o serviço militar. O clube de Paredes de Coura tem dois escalões, seniores e juvenis, com 32 atletas inscritas em competição, mais 14 atletas nos escalões de petizes, traquinas e benjamins, que só participam nas concentrações de futsal. Ao todo são 46 atletas federadas.“A pandemia prejudicou o que estava a ser feito, mas já estamos a recuperar. Fizemos uma equipa de juvenis e ficamos surpreendidos com o número de atletas que apareceram. Nota-se uma grande envolvência também dos pais das atletas neste processo, algo que não era normal”, apontou.Segundo o presidente, o futebol de 11 veio “roubar” atletas ao futsal e isso reflete-se nos clubes que desistiram do futsal por falta de atletas. Apesar de reconhecer que existe um maior interesse no futebol, o Castanheira estará sempre direcionado para o futsal feminino. “Para o futebol de onze é necessário relvado sintético e o Castanheira não tem. Estamos mais vocacionados para o futsal, são 22 anos consecutivos em provas federadas e é nesta modalidade em que nos sentimos bem. Sabemos que para o futebol de onze existem mais apoios por parte da FPF, mas não é algo que nos cativa. Quando acabamos com o futebol de onze masculino ainda tentamos o futsal masculino por dois anos, mas não resultou e tivemos de acabar”, recordou.  Albano Sousa destacou o trabalho de Ricardo Felgueiras na AFVC. “O futsal melhorou desde as últimas eleições, antes estava moribundo, ninguém se empenhava no futsal. Com a entrada do Ricardo Felgueiras fez-se um trabalho importante e a formação voltou a ser uma aposta. Também é justo referir que deram apoios, com algumas contrapartidas financeiras, que foram fundamentais para reerguer o futsal. Houve uma reunião em junho e foi lançado o desafio de ter um campeonato feminino só em Viana, mas para isso é crucial continuar a apostar na formação. Chegamos a ter 12 clubes no distrito com futsal e agora são três no distrito e dois a disputar os nacionais”, registou.

 

“Freixo gostava de ver mais equipas de futsal em Ponte de Lima”
A Casa do Povo de Freixo esteve na época de estreia do futsal em Viana e assim se manteve durante vários anos com alguns títulos consecutivos. Depois interrompeu a atividade e reactivou há três anos. Atualmente tem uma equipa de juniores no Interdistrital e uma de seniores na II Divisão nacional. Um dos responsáveis pelo futsal da Casa do Povo de Freixo, Armindo Brandão, lamentou a “coincidência” de regressar quando houve uma aposta no futebol feminino. “Quando voltamos a fazer futsal também coincidiu com a aposta da FPF e da Associação no futebol e isso prejudicou-nos e a todos os clubes que tinham futsal. Alguns tiveram de desistir das equipa de futsal feminino. Começamos com dez equipas em Viana e agora estão apenas três”, reiterou. O Freixo é o único clube no concelho de Ponte de Lima com futsal feminino, mas Armindo Brandão gostava que existissem mais clubes como já aconteceu com o Limianos e Vitorino de Piães. Uma situação difícil de acontecer apesar do bom trabalho que a AFVC tem realizado nas duas últimas épocas. “Nos últimos dois anos, notou-se um maior apoio da Associação ao futsal e a tendência é para crescer, nomeadamente nas equipas de formação. Gostaríamos de aumentar o número de equipas, mas reconheço que não é fácil, não existem muitas atletas disponíveis e o futebol tem mais visibilidade. As nossas condições são boas, temos um pavilhão excelente para a prática do futsal”, sublinhou.

 

“No ARCAS podemos avançar para outras valências, mas não para o futebol”
O Arcas – Arcos S. Paio, de Arcos de Valdevez, tem 41 anos de atividade e 15 anos no futsal feminino. Esta temporada está a competir apenas com seniores, um plantel com 18 atletas, incluindo uma de Monção e duas de Vila Verde. A presidente, Liliana Abreu, também tem o objetivo de acrescentar equipas nos escalões de formação. “Esta época não foi possível porque algumas das atletas foram para o futebol”, justificou.A dirigente acredita que com o trabalho que agora estão a fazer na AFVC vai ser possível ter mais equipas de futsal no distrito, mas não considera benéfico deixar de participar no Interdistrital. “Recentemente o futsal tem melhorado, nota-se que há mais esforço por parte da AFVC. Embora possa acontecer, não acho benéfico ter um campeonato só com equipas de Viana. O Interdistrital foi uma boa solução, aumentou a competitividade e as atletas evoluem mais”, sustentou, excluindo a possibilidade de fazer futebol feminino. “Nota-se que há mais apoio ao futebol e sempre que se apoia mais uma modalidade, a outra perde força. Todos sabem que o futebol tem mais visibilidade, é o futebol e os outros. No ARCAS podemos avançar para outras valências, mas não para o futebol”, salientou. Liliana Abreu elogiou a política desportiva da autarquia arcuense. “O Município é exemplar nas condições que oferece aos clubes e associações. Existem quatro pavilhões e estão sempre disponíveis, mesmo nas férias escolares”, reconheceu.

 

“Nos jogos de sub-15 feminino, tivemos mais gente a assistir do que nos seniores masculinos”
O Melgacense começou a apostar há cinco anos no futsal feminino e esta temporada também fez uma equipa de futebol, sub 15, a disputar o Interdistrital. No futsal tem uma equipa sénior, composta por treze atletas.O diretor desportivo, Henrique Silva, explicou como surgiu a equipa de sub-15. “As meninas estavam inseridas nas equipas de Infantis e Iniciados, mas como houve uma enorme afluência nem hesitamos em avançar com uma equipa feminina. Como os jogos são apenas de 15 em 15 dias e também existe uma folga, as meninas também fazem jogos nas equipas masculinas de Iniciados”, explicou, adiantando que na próxima época o clube pretende aumentar o número de equipas. “Estamos a ser abordados por atletas do concelho vizinho de Monção que querem jogar nas nossas equipas e também temos atletas que na próxima época passam para o escalão de sub 17 e, por isso, queremos avançar com esse escalão”, adiantou.Para Henrique Silva, o futebol feminino é uma boa aposta, mas são necessários vários apoios, principalmente nos transportes. “Felizmente temos um município que nos apoia, caso contrário seria muito complicado gerir os transportes para todos os escalões. No jogo dos sub 15 femininos, que realizou-se em Melgaço, tivemos mais gente a assistir do que acontece nos jogos dos seniores masculinos. As atletas e os pais estão entusiasmadas com o futebol feminino”, atestou.

 

“Os clubes de Viana destroem-se uns aos outros, é uma selvajaria”
O Âncora Praia é o clube que mais sucesso teve no futebol feminino e é o único clube do distrito que tem uma equipa de benjamins a competir com equipas masculinas.  
André Cunha, presidente do Âncora Praia, recordou que, antes da pandemia, o clube tinha quatro escalões: seniores, juniores, Iniciados e Infantis. “Conseguimos vários títulos, ainda na época passada, ganhámos a Taça da AF Braga nos sub 16. Fomos pioneiros no futebol feminino em Viana, com uma aposta forte e de qualidade, mas éramos a ovelha fora do rebanho e nunca fomos devidamente apoiados pela AFVC. Hoje a aposta no futebol feminino é em números, mas nunca vai alcançar a qualidade do Âncora Praia”, atirou.
O presidente expôs o que levou a terminar com o futebol feminino no clube. “Existe um grande problema e difícil de resolver, em que a posição da AFVC devia ser diferente. Os tubarões nacionais vieram buscar várias miúdas à nossa equipa de sub 16, para o Braga foram quatro, uma para o Vilaverdense e outra para o Gil Vicente. Posso dizer que, em cinco anos, saíram nove atletas para os ditos tubarões, incluindo a melhor jogadora nacional para o Benfica, a Erika Ventura. Os grandes clubes estão a dar cabo dos pequenos, vieram buscar as atletas sem nunca falarem com o Âncora Praia”, criticou.
O dirigente não tem dúvidas em afirmar que o Âncora Praia, antes da pandemia, alcançou um estatuto a nível nacional difícil de repetir. “Éramos das cinco melhores equipas nacionais. Fazíamos uma aposta forte, com atletas do Lindoso e Monção, estávamos em todo o distrito. No entanto, os clubes de Viana destroem-se uns aos outros, é uma selvajaria. Chegou-se ao exagero de um elemento que fazia parte dos quadros da seleção de Viana estar a aliciar as miúdas a ir para o Vianense. Estávamos a remar sozinhos, mas convém recordar que foi o Âncora Praia que abriu os olhos à AFVC para o futebol feminino. Atingimos o topo e estivemos muito perto de chegar à I Divisão”, disse.
André Cunha considerou que é possível melhorar o futebol feminino, mas referiu que para isso acontecer “alguns clubes têm de deixar de olhar para o próprio umbigo”. “Com o apoio da AFVC, uma das soluções poderia ser indicar dois ou três clubes por escalão para fazer futebol feminino. Assim o nível competitivo seria maior. Esta é uma solução, mas existem outras. Andamos três anos a lutar sozinhos. Ganhamos quase todos os títulos, só faltou um título nacional. Também da parte da Câmara de Caminha, o apoio foi reduzido, chegamos a ter de utilizar o estádio do Caminha para treinar porque faltavam balneários no nosso para as atletas se equiparem”, lamentou. 
Sobre a equipa feminina de Benjamins voltou a colocar em causa a organização da AFVC. “Fizemos a equipa de Benjamins porque elas apareceram para treinar, neste caso já não fizemos prospeção. E decidimos competir num campeonato com meninos porque entendemos que é a melhor maneira delas evoluírem. Contudo, mais uma vez, a AFVC teve a brilhante ideia de colocar as três equipas que o Âncora tem na mesma Série, fazem tudo em cima do joelho e não a pensar no interesse dos atletas”, criticou. 

 

“Equipa sénior feminina da Correlhã tem as mesmas condições da masculina” 
No futebol feminino, a Correlhã é a única equipa do distrito que está na II Divisão nacional, com um plantel de 24 atletas, com várias do concelho e distrito e algumas de Braga.
O treinador, Márcio Lima, salientou a vontade das atletas em jogar futebol. “Fizemos treinos de captação e tivemos muitas atletas interessadas, mas como já tínhamos uma boa base não foi possível selecionar todas”, justificou. No entanto, apesar desse interesse o clube não está a pensar em ter mais equipas. “Somos a única equipa sénior do distrito nesta competição. Dentro do clube, que saiba, não está nada definido para fazer mais equipas femininas. Temos todas as condições para a equipa feminina, com um balneário exclusivo para as atletas. Tudo que tem a equipa sénior masculina a feminina também tem”, garantiu.
Sobre o campeonato, o técnico referiu que existem duas realidade diferentes: “uma primeira fase com equipas competitivas e outras que estavam a dar os primeiros passos e depois na fase de subida, onde assistimos a equipas muito organizadas e de qualidade.”
Relativamente ao futuro do futebol sénior feminino no distrito, afirmou: “Alguns clubes já começam a fazer formação e isso é positivo, mas ainda vai demorar muitos anos até existir um campeonato feminino só com equipas de Viana.”

 

“Vianense quer colocar uma equipa na Liga BPI”
O Vianense voltou a apostar num modelo ímpar no distrito, com uma equipa de sub 19, com doze atletas, que está a competir na interdistrital de Viana, Braga e Porto.
No entanto, o projeto que o clube tem para o futebol feminino é arrojado. “Para a próxima época estamos a preparar a entrada de uma equipa a competir no campeonato sénior da III Divisão nacional. Queremos uma equipa forte e com objetivos engraçados. Tivemos de fazer uma preparação complicada e morosa, mas agora o nosso foco já está no scouting. Estamos a falar de uma equipa num contexto semi-profissional”, revelou Litos Boaventura, coordenador técnico da formação do Vianense, que, para além da equipa sénior, pretende ter uma de Iniciados. “Para sustentar este projeto também queremos começar a pensar numa equipa de Iniciados femininos e que possa competir no campeonato masculino. Vamos ver se a Associação de Viana tem abertura para que isso aconteça, pois dessa forma seria um contexto mais competitivo e que ajudaria as atletas a crescer”, afiançou.
Apesar de algumas dúvidas sobre o potencial que existe no distrito para o futebol feminino, Litos Boaventura tem como meta chegar à Liga BPI. “Não tenho muito conhecimento da realidade no Distrito, mas do que conheço, Viana tem muito que crescer. Já começa a ter algumas equipas femininas e tem uma na III Divisão sénior, que até nos levou algumas atletas. Também existem as equipa do Braga e Gil Vicente que alimentam-se de atletas de Viana. Ainda está numa fase embrionária e é necessário muito trabalho para chegar ao patamar que desejamos, que é colocar uma equipa na Liga BPI”, assumiu.
Para o coordenador, as condições do Vianense para o futebol feminino são boas e com capacidade para ter mais escalões. “Temos um balneário exclusivo para a equipa feminina e para as atletas que estão nos outros escalões da formação. As atletas que estão nos Infantis fazem um treino por semana com as sub 19 e os restantes no seu escalão. Temos balneários para ter mais equipas femininas e as sub 19 treinam e jogam sempre no relvado natural”, afirmou.
Na sua perspetiva o que falta é “matéria prima” e, nesse sentido, é preciso começar “de baixo”. “Atualmente, as atletas começam a jogar com 14 ou 15 anos, mas têm de começar com cinco ou seis anos para depois não desistirem tão facilmente. É também necessário mudar a mentalidade dos treinadores que não querem deixar o futebol masculino. Têm de perceber que o futebol feminino pode ser uma das grandes portas para chegar ao profissionalismo, seja no futebol masculino ou feminino. Falta ainda um investimento a sério, mas não é nada fora do normal. No transporte das atletas, por exemplo, devia ser o clube a tratar dos equipamentos, ter gabinetes para o feminino como existe para o masculino, nas infra-estruturas, técnicos qualificados e angariar atletas com idades entre os cinco ou seis anos”, registou.
Para a evolução do futebol feminino, o coordenador técnico do Vianense disse ser fundamental uma conversa entre AFVC e clubes. “Não podemos ter clubes que querem dar um passo maior que as pernas. Têm de existir clubes formadores que depois alimentem as outras equipas, mas isso só é possível com entendimento entre todos e sem olhar cada um para o seu umbigo. Em Arcos de Valdevez, isso aconteceu no futebol masculino e é possível fazer isso no concelho de Viana no feminino. É uma decisão mais política do que técnica, mas estamos disponíveis para falar com todos os interessados”, sublinhou.
Para Litos Boaventura, se houver uma “forte aposta”, Viana pode ter uma equipa na Liga BPI e campeonatos organizados apenas pela AFVC. “Ainda não temos os dados sobre o número de atletas que estão em Viana. Primeiro tem de existir uma forte aposta na angariação e a Associação e clubes têm de desenhar um projeto a cinco ou dez anos para crescer e colocar uma equipa na Liga BPI. A Associação de Viana tem de ter a capacidade para organizar os campeonatos femininos e fazer a gestão do modelo competitivo”, finalizou.

 

“Limianos só avança com mais equipas se tiver as infra-estruturas necessárias”
O Limianos já teve uma equipa de futebol femino e mais recentemente uma de futsal, agora começou a competir com uma equipa de sub 15, com 18 atletas. O coordenador técnico da formação do Limianos, João Pinto, assumiu a necessidade de fazer uma ou várias equipas de futebol feminino. “Temos várias atletas espalhadas pelas equipas do futebol de sete, que assim têm a oportunidade de continuar no clube e a competir num equipa feminina. Naturalmente que o nosso objetivo é aumentar o número de equipas, mas temos de ter noção dos meios logísticos que temos. Neste momento fazer outra equipa seria muito complicado e a curto prazo queremos manter uma equipa”, apontou, aguardando por melhores condições para ter mais equipas. “Não queremos avançar com mais equipas sem as infra-estruturas necessárias. Para ter mais equipas seria fundamental utilizar os dois sintéticos do Complexo do Triunfo, um deles está obsoleto, assim como os balneários”, manifestou.
Para João Pinto, a afirmação do futebol feminino tem de ser progressiva e identificou os primeiros anos como os mais importantes. “É o primeiro ano do Limianos no futebol feminino e cabe aos clubes e Associação trabalharem no sentido de ter mais equipas femininas para no futuro haver um campeonato distrital. Nesta altura alguns clubes fazem os escalões em função das atletas que aparecem e nem sempre conseguem fazer, daí ser complicado ter um campeonato com equipas só de Viana. O primeiro passo é sempre o mais difícil, mas também o mais importante. Temos de divulgar o futebol feminino junto das escolas. A nível nacional, através da FPF, essa aposta foi acontecendo durante cinco ou seis anos e no nosso distrito temos de seguir nesse sentido”, explanou. 
No Limianos, começaram com treinos de captação para diversas idades e numa primeira fase conseguiram ter onze atletas. “Um bom número tendo em conta que no escalão de sub 15 jogam futebol de sete. Depois esse número foi crescendo e temos atualmente 18 atletas. Acredito que esse número ainda vai aumentar até final desta temporada. No caso do Limianos, o problema não está nas atletas, está nos recursos humanos para treinar e, também, gostaríamos de ter uma diretora feminina para acompanhar as atletas. É o nosso primeiro ano e sabemos que temos de evoluir em alguns aspetos, melhorar as condições faz parte do processo da nossa formação”, comunicou. 

 

“Darquense não quer iluminados no futebol feminino”
O Darquense já teve futsal feminino e agora apostou no futebol feminino. “Infelizmente deixamos de ter futsal por falta de atletas. Naquela altura era complicado ter equipas femininas, mas agora é mais fácil porque existe um trabalho muito forte por parte da FPF na divulgação do futebol feminino”, afirmou o carismático presidente do Darquense, Salvador Miranda.
“Temos quinze atletas, mas com idades diferentes, algumas com quatro anos de diferença. Temos de encontrar novas ideias para integrar estas meninas, mas ainda é tudo uma novidade e aos poucos vamos melhorar todas estas situações normais nesta fase inicial. Em fevereiro ou Março vamos fazer um open day para as escolas no sentido de captar mais meninas para o futebol”, revelou.
Salvador Miranda deu a versão do que pode acontecer no futebol feminino se não existir diálogo entre AFVC e clubes. “O começo está a ser em passo de caracol e para acelerar este processo é fundamental que se juntem alguns dos clubes que têm futebol feminino para, em conjunto, com a Associação alinharem ideias para podermos competir com as equipas de Braga. Se todos os clubes começarem a fazer futebol feminino, que são livres para o fazer, o que vai acontecer é que o número de atletas será escasso para tantas equipas. Podemos correr o risco de ter equipas com poucas atletas e que depois até acabam por desistir dos campeonatos. É fundamental pensar seriamente neste tema”, alertou.
Para o presidente é crucial evitar a saída das atletas para fora de Viana. “Daqui a uns anos podemos ter no futebol feminino o que acontece no masculino, com alguns iluminados, que fazem scouting para instituições que nem são do distrito, a levarem as nossas atletas. A Associação tem de apoiar os clubes para que isso não aconteça. Gostaria de ver um campeonato só com equipas do distrito, seria atraente já que é outra forma de ver o futebol, ainda sem muitos dos vícios que se vê no futebol masculino. Só tenho medo que depois comece a campeonite, que é o que está a destruir o futebol de formação”, comparou.
As condições que o Darquense oferece ao futebol feminino são “boas”, em termos de balneários e até com um pavilhão ao lado do campo. “No entanto, são necessários apoios mais efetivos para ajudar os clubes a projetar o futebol feminino. O Darquense tem um orçamento de cinco mil euros para o futebol feminino, onde se inclui o transporte, inscrições e arbitragem”, revelou.
Para voltar a ter futsal no Darquense só com um novo pavilhão. “O único pavilhão que temos foi construído em 1983 e já não tem condições. Seria necessário fazer um investimento num novo pavilhão para que essas modalidades possam voltar. Quase todos os bons pavilhões estão centralizados em Viana”, registou. 

 

“Atlético dos Arcos quer contribuir para o crescimento do futebol feminino”   
O grande destaque da formação do Atlético dos Arcos para esta temporada foi a criação de uma equipa feminina, uma intenção que já vem da temporada anterior, como lembrou Tiago Cunha, coordenador técnico do Atlético dos Arcos. “Em 2021, já tentamos fazer uma equipa feminina, mas não fomos bem sucedidos porque apareceram poucas atletas. No entanto, ficamos com elas e em 2022 voltamos a tentar e conseguimos. Nota-se que começa a haver cada vez mais meninas a querer jogar futebol. Na próxima época queremos fazer mais uma equipa feminina, esta é quase toda de segunda do ano e vai subir de escalão, mas queremos manter a equipa de Iniciados”, frisou, lembrando algumas atletas arcuenses que estão a ter sucesso a nível nacional. “Temos os exemplos da Érika Ventura (Benfica), da Carolina (Famalicão) e Ema (Lank Vilaverdense) que começaram a jogar em equipas do concelho, neste caso Atlético dos Arcos e Paçô. Existe vontade para que o futebol feminino cresça no concelho e distrito”, garantiu.

 

“Deucriste só vê a AFVC interessada nas seleções femininas”
O Deucriste fez uma temporada de preparação para a entrada no futebol feminino. O presidente, Paulo Sousa, optou por trocar o futsal pelo futebol. “Estivemos durante dez anos no futsal feminino, mas tivemos de acabar porque não havia equipas e atletas. Na época passada começamos no futebol só com treinos e jogos amigáveis e esta temporada estamos a competir na Interdistrital da Associação de Futebol de Braga, nos escalões de sub 13 e sub 17. Temos 26 atletas inscritas, divididas entre os dois escalões, e na próxima época se aparecerem mais atletas podemos avançar com mais escalões”, adiantou.
O presidente revelou que as condições para o futebol feminino “estão a ser melhoradas com obras nos balneários”, mas o número de equipas e atletas é uma incerteza. “Ainda estamos a começar e não sabemos como vão ser as coisas no futuro. Assistimos a outros clubes que também querem fazer futebol feminino e andam a tentar roubar as nossas atletas. Num jogo em Forjães, um árbitro disse às atletas que deviam ir para um clube melhor. Não acho isto bem. O nosso projeto é continuar com o futebol feminino e enquanto tivermos atletas e elas gostarem de estar no Deucriste vamos continuar esta aposta”, vincou.
Paulo Sousa apontou o dedo à AFVC. “A nossa Associação devia ajudar mais os clubes na questão do futebol feminino. Sobre os campeonatos Interdistritais não sabiam explicar nada, tivemos de ligar para a Associação de Braga. Na Associação de Viana só têm interesse com as seleções e marcar treinos para as seleções, mas esquecem-se de apoiar os clubes quando é necessário”, frisou. 
Segundo Paulo Sousa, a preferência das atletas pelo futebol em detrimento do futsal é porque “no futebol jogam com equipas diferentes e no futsal eram poucas”. “Este ano já começaram a surgir algumas equipas de futebol e se continuar a aumentar podem fazer uma prova só com equipa de Viana. Cabe aos clubes da AFVC trabalhar para melhorar o futebol feminino”, realçou.

 

“Vila Fria parece o Seixal”
O Vila Fria já na época passada tinha duas equipas femininas a treinar, mas só uma estava a competir. Esta temporada arrancou com duas equipas no Interdistriral de sub 13 e sub 15, com quinze atletas em cada escalão.  
O presidente do Vila Fria, Carlos Silva, recordou como começou este projeto. “Um diretor tinha uma filha que queria jogar e ela foi trazendo outras. Depois o Chafé acabou com o futebol feminino e ficamos com essas atletas. O primeiro treinador que arranjamos não era da freguesia e também trouxe outras atletas com ele. Foi assim que conseguimos reunir um bom número de meninas”, relatou.
No final da época passada, o treinador saiu do Vila Fria e levou algumas atletas com ele. “Já estamos recuperados disso e a prova é que temos várias atletas na seleção de Viana. No futuro, queremos fazer mais equipas, até porque sentimos cada vez mais o interesse das meninas em jogar futebol no Vila Fria. Posso dizer que foi o Vila Fria que deu um grande impulso ao futebol feminino no Distrito. Na equipa de sub 15 podemos fazer um brilharete”, registou.
Contudo, o crescimento do número de atletas não está a ser acompanhado pelas condições das infra-estruturas. “O Vila Fria está a crescer demasiado no número de atletas para as condições que tem. Necessitamos com urgência de mais dois balneários. Sabemos que existe vontade da autarquia, mas leva tempo a concretizar. Da parte da Direção existe uma enorme força de vontade para resolver este problema.Temos muitos meninos e meninas a treinar no Vila Fria, parece o Seixal”, gracejou. Para acompanhar as duas equipas, o Vila Fria tem três treinadores que são uma “aposta ganha”, garantiu o dirigente. 

 

(REPORTAGEM PUBLICADA NA EDIÇÃO NÚMERO 1623 DO DIA 1 DE FEVEREIRO 2023)