“Viana Taurino é o farol da Praça da República e é importante que decidam se querem ou não este clube activo na cidade”

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Carlos Gomes, presidente do Viana Taurino Clube desde agosto de 2022, quer revitalizar a histórica coletividade que foi fundada em 1910 e está sediada em plena Praça da República, no centro histórico de Viana do Castelo. Para isso, já iniciou uma campanha de angariação e recuperação de sócios, fundou uma secção de bilhar com o apoio de antigos atletas do clube e pretende organizar uma série de eventos como um Torneio Internacional de bridge, de bilhar ou até um “xadrez vivo”. Contudo, explica, só com o apoio da Câmara Municipal e da própria cidade é que será possível manter vivo aquele que considera ser o “farol da Praça da República”.

O dirigente revelou que o clube esteve em vias de fechar por causa da pandemia, mas o amor que sente pela instituição levou-o a assumir os destinos do Viana Taurino pela terceira vez na sua vida. Mas não sem antes ter reunido com a autarquia para entender se esta o poderia ajudar na dura batalha contra o tempo.

“Quando tomamos a decisão de pegar nos destinos do clube, fizemo-lo desde que garantíssemos, por parte da Câmara, algum conforto para enfrentarmos os primeiros meses, porque o clube esteve morto por causa da pandemia, esteve fechado, e os sócios ganharam novos hábitos. Foi preciso recuperar sócios antigos, criar dinâmicas, mas as contas da luz, da água, do telefone têm de se pagar. E nós só assumiríamos os destinos do clube se a Câmara garantisse algum conforto”, explicou.

“A Câmara prometeu um apoio, para que o clube não fosse fechado, relacionado com as primeiras despesas, para nós tomarmos posse. Além disso, prometeu um pequeno apoio ao Manuel Gama, nosso atleta de bilhar, para as provas internacionais, mas até agora ainda não o temos”, lamentou Carlos Gomes, que compreende que o executivo esteja ocupado com outras questões como a Cidade Europeia do Desporto, mas lembra que de outra forma não irá conseguir levar a bom porto os seus objetivos para o Viana Taurino Clube, já que as despesas rondam os mil euros mensais, dos quais “cerca de 400 euros” são só para a luz.

“O vereador levou o pedido de apoio ao clube a reunião de Câmara, em novembro, foi aprovado, mas até hoje ainda não recebemos qualquer comunicação”, acrescentou, tendo revelado que no início deste mês enviou um e-mail ao presidente Luís Nobre de modo a perceber em que ponto é que se encontra esta questão.

Carlos Gomes revelou ainda que, dada a atual situação económica do Viana Taurino Clube, que tem cerca de 300 sócios ativos, ainda que alguns não paguem as cotas de dois euros mensais porque fizeram um adiantamento para toda a vida quando o edifício esteve em obras, há vários anos, foi obrigado a cancelar alguns eventos que tinha planeados.

“O problema que o clube tem é que tem de lhe ser reconhecida a importância de estar na Praça da República, de ter sido e ser, praticamente, o farol da Praça, a única coisa que está aberta na Praça. Nós damos apoio, em termos de ocupação de espaço, às Festas d’Agonia, aos eventos que se organizam, às rádios locais… Somos a única casa de banho aberta para esses momentos. Para os homens dos bombos, para os grupos folclóricos, para os atletas das provas desportivas que se realizam no centro histórico… É uma despesa enorme só para as casas de banho, para as manter limpas, e por vezes para reparar estragos”, alertou.

“As melhores fotografias que circulam no mundo, de eventos aqui na Praça, foram tiradas nas varandas do Viana Taurino. O Bate Forte, as comemorações do 1.º de Maio, do 25 de Abril… Isto é um camarote para os eventos que a Câmara Municipal organiza. E a Câmara Municipal tem de reconhecer, e já reconheceu, porque pelo menos mostrou reconhecer essa importância para a cidade, mas vamos ver se se concretiza”, apelou ainda o dirigente.

Desde que tomou posse, em agosto, uma das primeiras ações que desenvolveu para equilibrar as contas do clube foi a de recuperação de sócios. “Nós conseguimos, na altura das festas, controlar as entradas. Quem não fosse sócio, não entrava. Ou quem fosse sócio, e tinha as cotas em atraso, tinha de as pagar. Logo aí, recuperámos bastantes e ganhamos outros. Temos 49 novos sócios, mas são só dois euros por mês. E temos um cobrador, porque de outra forma não conseguiríamos”, referiu.

“O clube tem o mesmo problema que tem o associativismo em Portugal. Os jovens não frequentam os clubes, não têm casa certa, nem cidade certa, porque a vida deles, hoje, é de malas às costas. Emigram, vão trabalhar para fora, vão estudar para fora… É muito complicado”, desabafou. 

“Este clube tem-se mantido por carolice de muitas pessoas, mas é importante que reconheçam e decidam se querem ou não este clube activo na cidade, este clube que nunca deixou nenhum sócio para trás. Ainda hoje temos pessoas com algumas deficiências e que não pagam cotas, mas são sócias por direito, para que não haja nenhuma discriminação. Além do mais, podemos considerar que o Taurino tem sido o poiso de muitas pessoas idosas, reformadas, que vêm aqui ler o jornal, conversar, jogar cartas, dominó… Isto é importante para a cidade e tem de ser reconhecido”, sustentou.

Carlos Gomes revelou ainda algumas ideias que tem para o clube e informou que “o bridge está a funcionar às terças e quintas-feiras”. “Já organizámos um torneio de bridge em abril, íamos organizar um segundo, em memória de jogadores que já faleceram, mas está colocado de parte porque não temos condições financeiras para o fazer. E queremos fazer em agosto o sétimo Torneio Cidade de Viana do Castelo, esse a nível nacional e internacional, mas vamos ver se há condições. Era suposto iniciarmos a escola de xadrez, também, mas não vale a pena enquanto não houver apoio. E temos também a atividade do bilhar. Estamos a criar uma escola de bilhar para iniciar em meados de maio com o Manuel Gama”, contou, tendo dito ainda que, em termos federados, o Viana Taurino Clube tem bilhar e bridge, e que de forma amadora há outras atividades como o xadrez, as damas, o king ou o dominó.

“Gostaríamos de fazer, também, um torneio de bilhar semelhante ao que aconteceu na Praça da República, em 2010, no ano do centenário, e também o xadrez vivo, com pessoas e animais, como o Viana Taurino já chegou a organizar. Até chegamos a ir a Espanha fazer uma atividade dessas. Seria extraordinário num ano destes em que somos Cidade Europeia do Desporto”, asseverou.

Na sede do Viana Taurino Clube, há um bar a funcionar de segunda-feira a sábado, das 13:30 horas até por volta da meia-noite. “O clube tem instalações que permitem diversas atividades e até férias desportivas. As férias desportivas podem ser feitas aqui. Eles podem fazer aqui jogos de tabuleiro, cartas, dominó… Podem jogar bilhar com pessoas competentes a apoiá-los… E isto em plena Praça da República! Nós temos as nossas instalações abertas. Temos é de nos sentar e delinear um trajeto, para que um clube como este seja visto com a importância que tem”, reforçou o presidente, que garante que mesmo novos clubes ou associações recém-criados, “e que ainda não tenham condições ou espaço próprio para se reunirem”, podem fazê-lo nas instalações do Viana Taurino Clube, como “já aconteceu noutras épocas”. “Estamos abertos a qualquer parceria com qualquer clube da cidade. Venham e nós apoiamos”, assegurou.

Com um brilho nos olhos, fruto do amor que sente pela instituição, Carlos Gomes aproveitou para contar um pouco da história do clube que vai celebrar no dia 10 de agosto o 113.º aniversário. “Pouca gente sabe, em Viana do Castelo, que as Festas d’Agonia foram organizadas pelo Viana Taurino em 1912. Pouca gente sabe que a primeira praça de touros de Viana, em madeira, foi construída por iniciativa do Viana Taurino. Pouca gente sabe que o primeiro clube de ténis em Viana foi do Viana Taurino, com dois courts, nas antigas oficinas de S. José. Pouca gente sabe que o primeiro clube de natação com prémios, e estão ali as imagens, foi o Viana Taurino”, informou. 

“O primeiro clube de remo foi o Viana Taurino, e curiosamente o primeiro clube a ter atividade de futebol foi também o Viana Taurino. O estádio Dr. José de Matos foi vendido pelo Viana Taurino ao SC Vianense por 18 contos. O estádio era do Viana Taurino. Isto por volta de 1913, 1914. O Viana Taurino lançou as atividades e depois entregou-as aos clubes, como o campo de futebol ao Vianense, os courts de ténis, os barcos do remo… Também temos aí as imagens”, relatou. Mas não foi só no âmbito desportivo que o Viana Taurino Clube se distinguiu, mas também no social. “No tempo da 1.ª Guerra Mundial, por exemplo, havia uma comissão de apoio às vítimas da guerra. E quem é que começou a fazer os peditórios? O Viana Taurino. Nós não éramos um clube de touradas, como muitas pessoas pensam. Nunca fomos. O Viana Taurino nunca teve uma tourada. O Viana Taurino organizou garraiadas e cortejos para o campo de touros. Portanto, um clube destes tem de ser reconhecido. Isto tem de ser reconhecido”, declarou.

“O Viana Taurino tem medalha de mérito de 2.ª classe da Cruz Vermelha pelo Estado Português, tem medalha de mérito pelo Estado Português, tem várias distinções da Câmara Municipal, e é agora de interesse municipal. Fomos sempre reconhecidos até pelo governo. O Viana Taurino foi reconhecido e hoje, infelizmente, não está a ser”, lamentou.

Carlos Gomes recordou também que o Viana Taurino Clube “foi a primeira filial do Sporting CP”. “Curiosamente, foi desaparecendo da história e dos registos do clube, porque consta que o Sporting CP era muito ligado à realeza, à monarquia, e então entendiam que o nome Taurino não trazia nada de bom à imagem do Sporting CP e, por isso, o clube foi desaparecendo dos registos. Mas o registo inicial existe e a história nunca se pode apagar”, rematou.