“Estava a ver que ia morrer sem voltar a tocar nas Feiras Novas” 

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As Feiras Novas são o palco privilegiado para os tocadores de concertina e nem a ameaça da chuva abafou o som dos que não quiseram perder os dias de alegria, música e agitação. No rosto de cada tocador fez-se notar a saudade de carregar as concertinas ao peito nas Feiras Novas, que já não se realizavam há dois anos, e ao seu redor juntou-se um povo “sedento” de festa que não parou de cantar e dançar.

António Vale, limiano de gema, foi um dos organizadores da arruada de concertinas da maior festa do concelho e também é o fundador da Associação de Tocadores de Concertina de Ponte de Lima. “Depois de passarmos dois anos em pandemia, os tocadores estão todos contentes e prontos para bombar. Nota-se neles a garra que têm para tocar concertina e viver as Feiras Novas com toda a energia”, começou por dizer, destacando que já participa na arruada de concertinas da romaria há 17 anos, sendo tocador há 20 anos. “Tive vários anos a aprender a tocar com vários professores. Estamos sempre a aprender, porque qualquer instrumento requer muito treino e vai-se aprendendo ao longo dos anos”, contou António Vale, que também já foi tocador do Rancho Folclórico da Correlhã. “Andei no rancho três anos, mas desde que fundei a Associação de Tocadores de Concertina deixei, porque não há tempo para tudo. Não dava para estar a 100% nos dois sítios, por isso dediquei-me à associação”, partilhou, com uma evidente expressão de alegria.

Tal como já era habitual, a “Clínica das Concertinas” não faltou às Feiras Novas e Daniel Lopes, professor da escola, não escondeu a alegria que estava a sentir no meio dos tocadores. “Viemos mostrar um bocadinho daquilo que vamos aprendendo durante o ano. A malta estava toda em fúria para pegar na concertina e vir tocar para as Feiras Novas”, atirou o músico, contando que tenta passar o gosto da concertina e a alegria da festa aos seus alunos. “Feiras Novas é o auge das tradições e é a festa em que juntamos a malta que toca concertina. Na nossa escola temos alunos dos 6 aos 90 anos e todos gostam de tocar na romaria”, exprimiu, mostrando-se satisfeito com o facto de, ao longo dos anos, cada vez mais tocadores marcarem presença do arranque das festas. “Lembro-me deste dia da abertura das concertinas há 20 anos e de sermos cerca de 20 participantes. Hoje temos esta imensidão de tocadores aqui presentes, o que é muito bom”, considerou o limiano.

Para o tocador António Sousa, natural de Rebordões Santa Maria, a animação não teve mãos a medir. “É uma alegria enorme estar aqui a tocar novamente nas Feiras Novas, porque Ponte de Lima e o seu povo estavam a precisar disto: da alegria e do convívio. O bicho queria matar-nos a todos, mas nós é que vamos matar o bicho agora na romaria. Só vou para casa quando o galo cantar”, afirmou, contando que já toca concertina “há muitos anos” e que já não é novo na arruada de concertinas das Feiras Novas, uma vez que, desde que aprendeu a tocar, participou “sempre”. “Participo todos os anos, mas com isto da pandemia estava a ver que ia morrer sem vir outra vez tocar nas Feiras Novas”, gracejou o limiano, com uma gargalhada.

Também Carolina Torres, residente da freguesia de Gaifar, irradiou felicidade por estar rodeada de concertinas. “A energia está muito boa, esta arruada é sempre uma alegria”, afirmou a tocadora, contando que gosta muito de tocar concertina na maior festa do concelho. “Este ano estou a viver as Feiras Novas com muita euforia, porque já há dois anos que não havia”, comentou, continuando a tocar concertina na roda, onde também estavam tocadores e cantadeiras da freguesia da Feitosa. Ao lado deste grupo, estava a tocar Manuel Fernandes, da freguesia de Gondufe, que já participa na arruada das Feiras Novas “há muitos anos”. “A alegria continua a ser a mesma. Estamos todos muito animados na romaria”, contou o tocador, que também toca concertina no Rancho Folclórico da Ribeira.

As concertinas atraíram milhares de pessoas ao centro histórico e foram muitos os que se juntaram a elas para afinar as vozes e dar um pezinho de dança. “Já não sabíamos o que era dançar ao som das concertinas!”, disse uma jovem limiana, imediatamente após ter acabado de dançar o “vira” numa das rodinhas do Largo de Camões. “Até a calçada abana”, atirou um senhor também já ofegante e a “escorrer água” de tanto dançar.

SUPLEMENTO ESPECIAL DO SEMANÁRIO ALTO MINHO Nº 1603 – 14 de SETEMBRO DE 2022