Rúben Fernandes: “Gostava de acabar a carreira no Gil Vicente”

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Joaquim Jorge / Flashscore Notícias
Vinte anos depois de ter chegado à equipa principal do Portimonense, Rúben Fernandes continua a marcar presença nos maiores palcos do futebol português. Aos 37 anos, o central cumpre a quinta temporada no Gil Vicente, onde chegou pela mão de Vítor Oliveira, o mesmo treinador que lhe possibilitou o regresso a casa, a Portimão, depois de dois anos na Bélgica, no Sint-Truiden, na única experiência no estrangeiro.
Em entrevista exclusiva ao Flashscore, Rúben Fernandes lembra o início de uma carreira, que estava praticamente destinada, pelo passado futebolístico da família, o empréstimo ao Varzim, na primeira experiência a Norte, recorda os anos de ouro ao serviço do Estoril, destaca as diferenças que existem entre jogar em Portugal e lá fora e, claro, o carinho que sente e que é retribuído pelas gentes de Barcelos, cinco anos depois de ter chegado ao Gil Vicente, com quem tem contrato até 2024. O futuro, esse, está acautelado pelo nível II de treinador, embora o defesa pense noutras funções que não a de técnico dentro do futebol.
Flashscore – São já muitos anos de futebol, numa carreira que se vai estendendo. É um bichinho que começou de forma natural, até porque o futebol já fazia parte da família?
Rúben Fernandes (RF) – Sim, o meu pai e o meu tio foram jogadores profissionais. Daí que também foi muito mais fácil eu seguir essas pisadas. E, olhando para trás, acho que tenho estado bem a seguir essas pisadas que eles me deixaram.
Flashscore – Começaste a carreira no Portimonense e é aí que acabas por te estrear como sénior e logo num dérbi contra o Olhanense. O primeiro golo da tua carreira também é pelo Portimonense. São esses momentos com os quais se sonha quando se é mais novo?
RF – Sim. A minha formação foi toda feita no Portimonense, é normal que tenhamos como sonho de criança chegar à equipa principal do clube da nossa cidade. Consegui esse feito. O primeiro jogo foi esse, contra o Olhanense. Já tinha sido chamado muitas vezes mas ainda não tinha conseguido estrear-me. Fazê-lo num dérbi foi ainda mais especial para mim.
Flashscore – O primeiro golo também foi no estádio do Portimonense, contra a Ovarense, e num jogo em que a equipa até estava a perder.
RF- Exato, o primeiro golo também foi em casa. Foi muito importante para mim mas ainda mais para o clube, que é sempre o que mais interessa.
Flashscore – Já nessa altura pensavas em sair do conforto do lar ou o empréstimo ao Varzim, em 2007, acabou por surgir de forma surpreendente para ti?
RF – Já tinha pensado em poder sair de Portimão. Estava feliz no Portimonense, sempre foi o meu sonho jogar no Portimonense, mas surgiu essa oportunidade de ser emprestado. Não estava a ser tão utilizado como nos anos anteriores e aceitei de bom grado esse empréstimo. Estive no Varzim durante duas épocas, gostei muito de estar no Norte e é por isso que estou cá, de volta uns anos mais tarde. Foi bom para mim, profissional e pessoalmente.
Flashscore – Em 2008/2009, na segunda época ao serviço do Varzim, na 1.ª Liga, o melhor marcador foi o Nené, que hoje ainda joga, no AVS, aos 40 anos. O Rúben tem 37. Hoje em dia o futebolista já é olhado de outra forma? Quando começaste, um jogador aos 30 anos já era considerado “velho”…
RF – Sim, antigamente os jogadores acabavam a sua carreira mas cedo. Não sei se isso também tinha a ver com a vida pessoal ou não. Agora são tempos diferentes, conseguimos controlar melhor as coisas, temos condições para isso. Temos nutricionistas, somos sempre aconselhados na alimentação e por isso mesmo conseguimos jogar mais anos do que antigamente. Atualmente, os jogadores conseguem mais anos de carreira ao mais alto nível.
Flashscore- Depois de dois anos no Varzim, regressaste a Portimão para mais um momento marcante, para ti e para o clube: a subida à 1.ª Liga.
RF – Sim, foi algo muito importante. O Portimonense há mais de 20 anos que não estava na 1.ª Liga e nós conseguimos esse feito, a subida de divisão. Foi muito bom para nós mas, sobretudo, muito bom para a cidade e para os adeptos, que já o mereciam. Tivemos um ano na 1.ª Liga mas tivemos a infelicidade de descer logo nesse mesmo ano. Mas, passadas umas épocas, eles conseguiram reerguer-se e estão muito bem na 1.ª Liga. E espero que assim continue.
Flashscore – Essa descida à 2.ª Liga até podia ter tido continuidade, porque no ano a seguir ficaram novamente nos lugares de despromoção e, curiosamente, mantiveram-se na 2.ª Liga devido à não inscrição… do Varzim.
RF – Foi mesmo. Foi na secretaria mas ficámos e depois lutámos para que, um dia mais tarde, o Portimonense pudesse voltar ao lugar onde merece estar.
Flashscore – A época de 2012/2013 foi atípica, quando olhamos para os números do Rúben. 11 golos, oito deles na Liga, para um defesa-central. Que clique foi esse?
RF – Acho que foi a época mais importante para mim, para poder dar o salto na minha carreira. Foi uma época muito boa do clube, acho que ficámos em sexto ou em sétimo. Foi muito importante para mim e para o clube. Era o capitão de equipa e consegui ajudar com muitos golos. Consegui esse objetivo e consegui, depois, dar o salto que procurava.
Flashscore – Esse salto, com esses números que chamaram a atenção, foi para o Estoril, com o regresso do Rúben à 1.ª Liga, aos 28 anos. Já eras um jogador com outra maturidade.
RF – Exato. Como disse, as coisas correram muito bem e consegui dar esse salto. Já foi um pouco tarde, gostava que tivesse sido mais cedo mas não fico triste por isso. Dei o salto, estivemos dois anos nas competições europeias, com grandes jogos e grandes campeonatos. No Estoril consegui a melhor classificação da minha carreira, um 4.º lugar.
Flashscore – Seguiu-se depois a Bélgica, com dois anos no Sint-Truiden. Que balanço fazes dessa passagem?
RF – Para mim, essencialmente como pessoa, foi uma experiência muito boa. Acho que todos os jogadores deveriam ir para fora, sair de Portugal, para darem mais valor ao nosso país. Todos sabemos que em termos financeiros é bem melhor mas, por um lado lá, e por outro tira. Ficamos longe da nossa família, da nossa terra, dos nossos costumes e alimentação. Aí damos mais valor a Portugal quando estamos lá fora. E isso, para mim, foi muito bom. Como pessoa cresci muito.
Flashscore – Depois dessa experiência na Bélgica, o regresso a Portimão, em 2017. Era para terminar a carreira em casa?
RF – O meu regresso a Portimão deu-se por uma situação que vivi lá fora. Estive dois anos na Bélgica, tinha renovado por mais dois anos mas surgiu um problema com a minha filha. Ela não estava muito bem na escola, a professora falou comigo e eu esqueci os anos de contrato e tentei regressar a Portugal. Surgiu o Portimonense, do nosso Vítor Oliveira, e eu regressei sem pensar duas vezes, ainda mais no clube da minha cidade. Se calhar pensava mesmo em terminar lá a carreira mas não foi assim. Não fico triste. Estou bem agora, é o que interessa.
Flashscore – Foi também pela mão do Vítor Oliveira que regressaste ao Norte.
RF – Sim, passados dois anos de Portimonense. Ele veio para o Gil Vicente e ligou-me, disse que precisava da minha ajuda. Naquele ano o Gil precisava de jogadores com experiência. E eu aceitei, disse que vinha ajudá-lo, sem dúvida. Foi uma opção muito boa que tomei, tanto que continuo cá e espero continuar.
Flashscore – Quando chegaste a Barcelos, em 2019, sentiste alguma desconfiança pela idade?
RF – Não, não. Pelo contrário. Por causa da minha idade e experiência, os jovens que fui apanhando, sem muita experiência de campeonatos profissionais, ainda me deram mais valor e atenção. Transmitia essa segurança. Foi muito bom para eles e para mim.
Flashscore – Desde aí que tens sido cada vez mais importante nessa integração. Este ano, há muita juventude no Gil Vicente, sobretudo na defesa.
RF – É uma função que me foi dada assim que cheguei, não só este ano. A nossa equipa sempre teve muita juventude e é gratificante ver que os jovens ouvem e aceitam as minhas opiniões. É para isso, também, que estou cá. É a quinta época no Gil Vicente e vou continuar a ajudar sempre, retribuindo a confiança que o clube e o staff me dão, para ajudar sempre no que posso.
Flashscore – Tens contrato até 2024. Já pensas no futuro?
RF – Temos sempre de pensar no futuro, mas quando as pernas começarem a já não ter força. Eu ainda tenho estado bem fisicamente, sem muitas lesões, que praticamente não tive ao longo da carreira. Já tentei pensar no que vou fazer a seguir e não consigo. Ainda me sinto bem fisicamente, consigo jogar, nem penso muito bem nisso. Faço-o de outra forma. Já tenho o nível II de treinador, mas penso mais em algo como team manager ou diretor desportivo. Por enquanto, sinto-me bem a jogar. Provavelmente vou acabar aqui, gostava de acabar a carreira no Gil Vicente, estou feliz aqui. Vamos ver como vai ser o futuro.