“Adoramos o Santoinho, o Minho, o arraial, a alegria…”

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Reportagem publicada na edição nº 1598, de 10 de Agosto de 2022, do Semanário “Alto Minho”

 

O legado da alma visionária e empreendedora de António Cunha resplandeceu na comemoração dos 50 anos do Santoinho. Um mar de gente inundou a quinta do maior arraial minhoto do país para cantar os parabéns à “catedral da luz, cor e alegria” numa noite que juntou em palco Zezé Fernandes, Sons do Minho, Augusto Canário e Quim Barreiros. Como verdadeiros romeiros, os “peregrinos” desta “romaria”, que vieram de todo o país e da diáspora, cantaram, dançaram, saltaram e até em árvores se empoleiraram para assistir a uma festa que vai ficar na história desta instituição que António Cunha criou e que o seu filho Valdemar impulsionou, mostrando ao mundo a força do Minho.

A “romaria” para a festa de aniversário do Santoinho começou horas antes do início dos espetáculos musicais. Os parques dos dois hipermercados que cederam as suas instalações para o estacionamento dos carros destes romeiros encheram num ápice e as bermas da estrada nacional foram sendo paulatinamente ocupadas pelas viaturas desta gente com fome de festa. Ao longo de mais de cinco horas, o Santoinho renasceu “pertinho do céu”, como entoa o seu hino, e reuniu todos aqueles que nos últimos 50 anos têm animado a festa que António Cunha idealizou. Os ranchos, a marcha popular, os Clipers e céu pintado com as cores do fogo de artifício mataram a saudade do arraial sentida por um povo romeiro. 

Valdemar Cunha, presidente da Fundação Santoinho, estava, como é seu apanágio, irrequieto e atento para que nada falhasse no programa deste aniversário histórico. “A razão para fazer esta festa é simples: celebrar a autenticidade das nossas raízes que o meu pai criou como uma amostra para os turistas que nos visitam. A nossa convicção foi sempre criar raízes da romaria, da cor, da luz, da alegria, da saudade e da comunhão com as nossas comunidades emigrantes”, afirmou o filho do fundador do Santoinho que tem sido, com a sua família, o principal motor para a continuidade do legado de António Cunha. “Este é um projecto que já não é de Viana, é do mundo. A noite do Santoinho é recriada internacionalmente”, sublinhou Valdemar Cunha que lançou um repto ambicioso neste aniversário: “Santoinho, com o espírito que António Cunha lhe deu, está enraizado nas comunidades com a sua identidade própria. Inspirados no lema da cor, luz e alegria, estamos hoje a partilhar as vivências do passado e a testemunhar a relevância do Santoinho neste marco da sua história. Em tempo de cinquentenário, e em nome da Fundação Santoinho, assumimos o compromisso de perpetuação das virtudes do Santoinho no mundo, na expectativa de que no futuro se venha a propiciar o reconhecimento como Património da Humanidade.”

Os artistas populares, há muito amigos do Santoinho, que participaram nesta festa conseguiram o feito único de ter uma brecha nas preenchidas agendas de agosto para cantarem, juntos, os parabéns ao arraial. “Há um ano reuni estes amigos que me disseram que nunca se tinham encontrado na nossa terra em agosto. Por isso, consideram um privilégio estarem juntos a enaltecer um espaço que sentem como deles, enquanto minhotos, numa festa que celebra as raízes da autenticidade”, vincou Valdemar Cunha. De facto, dos quatro artistas convidados para este aniversário, só se ouviram palavras de reconhecimento e agradecimento ao que o Santoinho tem feito por eles, pela música popular e pela preservação da identidade minhota. “Os 50 anos do Santoinho impõem respeito, principalmente porque esta casa mantém o seu conceito inicial e não se desvia dele”, considerou Zezé Fernandes, o primeiro artista a subir ao palco que lembrou a célebre história de que a Amália Rodrigues não foi autorizada a cantar no Santoinho, precisamente porque não era minhota e o fado não faz parte do conceito pensado por António Cunha. “O mais importante é perceber que esta casa chegou aos 50 anos sempre a top. Isto é um sonho e cheguei hoje à conclusão que é o melhor palco para os artistas populares”, afirmou o cantor de 56 anos, natural de Ponte da Barca.  

Augusto Canário, que este ano comemorou os 40 anos da sua parceria com Cândido Miranda na eira do Santoinho, reconheceu a importância que este local teve na projecção da sua carreira. “O Santoinho também me ajudou a ser o Canário que sou hoje”, assumiu o cantador de Vila Nova de Anha que ficou surpreendido com a multidão que se juntou para esta festa. “Com tantas festas nos arredores, fiquei muito surpreendido com tanta gente, mesmo não havendo comes e bebes, é incrível o que se vê aqui hoje”, salientou Canário que deixou uma sugestão, corroborada por Zezé Fernandes, à administração da Fundação Santoinho: “Deviam organizar um festival destes, todos os anos no verão, com muitos artistas minhotos.”

Pi d’Areosa, dos Sons do Minho, assume que mantém com o Santoinho uma relação “quase umbilical” porque fez parte do Grupo Etnográfico da Areosa (GEA), um dos quatro ranchos residentes no arraial. “Tenho 34 anos de vida e seguramente 29 de Santoinho. Se estou hoje nos Sons do Minho, devo também muito ao Santoinho que deu o pontapé de saída”, afirmou o cantor. “Os 50 anos de história do Santoinho merecem esta comemoração com esta casa cheia de um público fantástico”, completou o seu companheiro das cantigas, Jorge Salgueiro. “Temos que dar os parabéns à família Cunha e à Fundação por serem os embaixadores não só do Alto Minho, mas de Portugal no mundo. Saímos daqui de coração cheio”, assegurou Pi. 

Quim Barreiros foi o último a subir ao palco e, apesar da concisão, resumiu objectivamente a alma do aniversariante: “Santoinho é amor, é alegria, é povo, é saudade, é romaria.”

No amplo espaço exterior do Santoinho, onde foi cravado no chão um coração de Viana alusivo ao cinquentenário, as bancadas montadas de propósito para a festa depressa lotaram. E bem no centro deste terreiro, rodeado por espigueiros iluminados, a banda de música de Vila Nova de Anha foi a primeira a soprar alegria aos já animados romeiros. Lá pelo meio da multidão, viam-se as belas moças trajadas à lavradeira que habitualmente cantam e dançam nos arraiais do Santoinho. Os quatro grupos folclóricos residentes do arraial foram dos primeiros a chegar para garantir, na eira exterior transformada em palco de pedra, a animação entre os concertos. Todos concordaram que o Santoinho tem sido um palco privilegiado para mostrar as mais típicas tradições do Minho e admitiram a chieira por fazerem parte da história deste arraial que se cruza com as suas próprias histórias. “A nossa actividade sempre foi feita em função do Santoinho, nunca vamos a lado nenhum se tivermos um dia de arraial marcado. Há uma responsabilidade acrescida em respeitar o Santoinho e fazemos questão de estar sempre presentes neste que é dos arraiais mais antigos, típicos e fiéis à tradição”, reconheceu Pedro Araújo, presidente do Grupo Folclórico de Viana, visivelmente orgulhoso por actuar no dia do aniversário. “Depois da pandemia, ainda não houve nenhum arraial, por isso, fazemos todo o gosto em participar na festa do Santoinho que consideramos como a nossa segunda casa”, complementou o dirigente e dançarino que desejou um futuro risonho ao arraial. “Espero que continue a perpetuar as tradições do Alto Minho. A Quinta de Santoinho é um marco nas nossas tradições”, reiterou o presidente deste grupo que vai actuar no arraial do dia 20 de agosto. 

A génese do Santoinho, que começou em Carreço, foi recordada pelo grupo desta freguesia, o primeiro a bater as chinelas no palco de pedra. “Fomos o primeiro grupo a actuar no Santoinho quando o arraial se realizava na Casa Amaro, em Carreço. Depois teve uma breve passagem junto ao farol de Montedor numa quinta que lá existia até chegar à Quinta do Santoinho em Darque”, elucidou Carlos Sampaio, presidente do Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço, que desde a barriga da sua mãe respira folclore. “Cantar e dançar aqui é um privilégio! O Santoinho abriu-nos muitas portas. A visibilidade que esta quinta cria aos grupos folclóricos residentes é muito grande. Conseguimos chegar aos quatro cantos do mundo e notamos que as pessoas gostam da cultura e tradição minhotas”, acrescentou o dirigente que desejou “muita força e coragem” ao Santoinho. 

“António Cunha era um homem extraordinário, sem medo de arregaçar as mangas”

Alberto Rego, presidente do GEA, lembra-se bem do início do Santoinho em Carreço. “Quando íamos para a eira do Amaro receber aquelas turistas inglesas todas bonitas, é das melhores recordações que tenho do Santoinho. Nós éramos rapazes de 18 anos de olhos arregalados a ver aquelas turistas que eram recebidas com um cálice de vinho do Porto, queijo, chouriço, bolinhos de bacalhau e mais uns mimos. António Cunha recebia muito bem na eira do Amaro, os turistas deliciavam-se com aquilo e nós fazíamos a animação”, recordou Rego que se lembra ainda de ver um homem com uma perna de pau a vender os típicos bonecos “Manel” e “Maria” à porta da eira do Amaro, apregoando-os por “ten [10] escudos”. 

Homem experiente do folclore, Alberto Rego frisou que o Santoinho “nasceu com muito sucesso porque foi muito bem estruturado” e ganhou um novo impulso nas suas actuais instalações. “Aqui, os petiscos típicos da região eram colocados em mesas compridas debaixo das latadas da vinha”, contou o dirigente que considera António Cunha uma figura ímpar. “É daquelas figuras raras que aparecem de vez em quando. Era um homem extraordinário, que não tinha problemas em arregaçar as mangas e fazer o que quer que seja para que as coisas acontecessem. Era um realizador, com uma dinâmica que raramente aparece e um estado de espírito especial. Ele não se importava de varrer a parada, de servir o turista ou de conduzir um autocarro”, descreveu Alberto Rego, admitindo que o filho Valdemar Cunha herdou a mesma inquietude. “O filho aprendeu muito com o pai e hoje faz o mesmo, possivelmente, para dar o exemplo aos outros de que há momentos na vida em que é preciso fazer as coisas. Este espírito empreendedor e empresarial era uma característica única em António Cunha”, considerou o dirigente que considera o Santinho “muito especial” para o GEA. “Fizemos aqui centenas, para não dizer, milhares de actuações. Somos do tempo em que só eram três grupos residentes e passaram a ser quatro porque o nosso grupo foi para Bélgica e esqueceu-se que havia um arraial marcado na mesma altura, tal era a quantidade de actuações que estavam marcadas. No dia do arraial, o rancho não apareceu e aí a administração do Santoinho percebeu que, sem um grupo folclórico, o Santinho não é Santoinho”, confidenciou Alberto Rego, confirmando que foi por causa desta ausência do grupo da Areosa que o Rancho das Lavradeiras de Vila Franca se tornou no quarto grupo residente do Santoinho. “Estamos muito felizes por participar neste cinquentenário e sentimos também uma evolução no nosso trabalho por estarmos ligados ao Santoinho. Fazemo-lo com muito gosto e, acima de tudo, não vimos aqui fazer um ensaio. Para nós, o Santoinho é um local onde fazemos um espetáculo que queremos que seja muito bom porque o público merece todo o respeito, até porque paga bilhete”, vincou o presidente do GEA, já com Zezé Fernandes em cima do palco principal da festa de aniversário. 

Rosa Portela é uma das caras do Santoinho há vários anos. Por si passou muita da organização desta festa pensada ao pormenor ao longo do último ano pela administração da Fundação Santoinho. “50 anos de Santoinho é uma vida. Isto começou tão pequenino, cresceu tanto e fez-nos crescer com ele, aumentando a nossa capacidade de resolver problemas cada vez maiores”, afirmou Rosa, admitindo que a preparação desta festa deu muito trabalho. “De ficar com os cabelos brancos e em pé (risos), por isso, disfarço bem”, brincou a funcionária do Santoinho que se foi desdobrando durante a festa em várias tarefas para garantir que tudo corria como previsto. “Foi uma semana de muita ansiedade e nervosismo”, confidenciou Rosa que, ao contrário dos mais cépticos, acreditou que o aniversário atrairia milhares de pessoas ao Santoinho, mesmo sem haver comida e bebida como nos arraiais. Foi pela “mão” de Rosa Portela que o “seu” grupo das Lavradeiras de Vila Franca entrou no Santoinho, depois da ausência acidental do GEA num dos arraiais. “O Santoinho foi e é muito importante para o nosso grupo pela divulgação que proporciona a tanta gente diferente e pelos contactos que já se fizeram. Representou uma grande aprendizagem para todos os elementos em relação ao rigor que se deve ter”, afirmou a folclorista que trabalhou com António Cunha e acredita que se ele fosse vivo “ficaria de coração cheio por ver o amor e o reconhecimento que as pessoas têm pelo Santoinho e em sua memória”. 

“O Santoinho é terapêutico, nem é preciso beber”

Esta festa ficou marcada por um momento especial com a saída da marcha popular que, à semelhança do que acontece no arraial, pontualmente às 22 horas desfilou pela quinta até à frente do palco. Valdemar Cunha emocionou-se por relembrar o primeiro desfile desta marcha há 50 anos enquanto o fogo de artificio iluminava o céu do Santoinho. Em palco, José Escaleira leu as palavras sentidas de Valdemar Cunha e da sua família dedicadas ao fundador do Santoinho. “Foi com um amor incondicional à nossa região que António Cunha idealizou e criou este conceito pioneiro, um arraial minhoto que recria com autenticidade as tradições e cultura do Minho, divulgando e expressando a etnografia, alegria do povo, a romaria e a festa”, citou o apresentador da festa. “Cedo assisti à transformação de Santoinho que evoluiu de atração turística original e única, para uma referência da região, conhecido de norte a sul do país e junto das comunidades portuguesas pelo mundo fora”, realçou Valdemar Cunha, evocando a memória também de Agostinho dos Santos, antigo presidente da Casa do Minho do Rio de Janeiro que foi o primeiro a recriar uma noite de Santoinho fora de Portugal. “Foi o primeiro embaixador do Santoinho no mundo que, com fidelidade aos princípios do fundador, recriou na Casa do Minho do Rio de Janeiro a essência deste arraial minhoto”, enalteceu.

A filha, neta e bisneto de Agostinho dos Santos fizeram parte desta festa de aniversário. A morar em Viana do Castelo há cerca de sete anos, estas brasileiras têm alma portuguesa. “O Santoinho remete-me para a minha infância porque o meu pai recriou este arraial no início da década de 80 no Rio de Janeiro. Foi a primeira festa em que ele se empenhou para ficar igualzinha ao original”, afirmou a filha Maria de Fátima dos Santos, de 56 anos, que chegou a privar com António Cunha no Brasil. “Depois de tantos anos, a amizade do meu pai com o senhor Valdemar e a sua família é enorme”, reconheceu a filha que acredita que o seu pai, se fosse vivo, iria defender que o Santoinho se mantivesse igual ao que sempre foi. 

A neta de Agostinho dos Santos sempre preferiu o vira ao samba e, depois de ter integrado o grupo folclórico Maria da Fonte que pertence à Casa do Minho carioca, faz parte com o marido, pai e filho Mateu de 18 meses do grupo de Santa Marta de Portuzelo. “Quando vim a Viana do Castelo com o grupo Maria da Fonte em 2014, apaixonei-me pela cidade e o folclore para mim é como amar a minha família. Aqui sinto-me em casa e, para alguém que vem do Rio de Janeiro, Viana é uma cidade maravilhosa, muito calma”, afirmou Daniela dos Santos, 36 anos. “O Santoinho traz-me muitas lembranças e sempre que venho aqui revivo-as. É uma emoção muito grande estar neste local de alegria desta terra que eu já considero como minha. É muito gratificante estar num local onde vemos que as pessoas estão a divertir-se, a celebrar a vida e a amizade como a que existe entre a família do senhor Cunha e do meu avô”, declarou a neta que, em criança e jovem, sabia que todos os sábados tinha de ir para o arraial do Santoinho recriado na Casa do Minho. “Aqui sentimo-nos em casa. O Santoinho tem uma capacidade de alegrar as pessoas que é única. Mesmo que ao chegar a esta festa não estejamos animados, dali a poucos minutos, esquecemos todos os problemas. O Santoinho é terapêutico, nem é preciso beber porque, mesmo sóbrios, ficamos animados na mesma, faz muito bem à saúde”, gracejou Maria de Fátima. 

“Saímos sempre daqui a sorrir, a suar e sem voz”

Margarida Ribeiro e o marido António foram dois “peregrinos” desta “romaria” que comprovaram esta teoria terapêutica. Margarida chegou à festa agarrada a uma muleta, mas mal parou em frente ao palco, deixou-a e começou a abanar os ossos ao som da música. “Já costumávamos vir aos arraiais do Santoinho e adoramos. Eu gosto muito do bailarico, apesar de agora estar empenada de um joelho. Este é o arraial do Minho, é bonito… com sardinha, caldo verde… há muita diversão, a gente canta e dança. Saímos daqui às tantas da madrugada cansados, mas felizes. Vale a pena”, assegurou Margarida, satisfeita pelo facto de a festa ter entrada gratuita. “E hoje viemos ao aniversário para matar as saudades”, completou o marido. Previdentes, estes romeiros de Forjães trouxeram o seu farnel para a festa. Dentro da bolsa colorida de vime, havia sandes de atum, tomate e ovo, fruta e água, os mantimentos suficientes para aguentar o “bate pé” dos quatro concertos. 

Maria do Sameiro bateu o pé, as pernas e o corpo todo a dançar com a irmã. Há muitos anos que as duas bailam nos arraiais e Sameiro assegura que são sempre “espetaculares” por causa do ambiente, da música e do convívio entre as pessoas. “É algo tão típico do nosso país que eu adoro e tem uma importância maior por estarmos longe de cá”, resumiu esta emigrante em França, natural de Barcelos. De férias em Portugal, as duas irmãs fizeram “de tudo” para estar na festa do aniversário e o facto de não haver comida como nos arraiais não lhes fez diferença nenhuma. “Eu não venho para comer, venho pela festa que espero que nunca mudem. Que continuem assim para nos darem alegria sempre”, apelou. 

No meio da multidão, António “Tony” da Silva fez uma espécie de roda do Vira com os seus filhos e sobrinhos com idades entre os 12 e 21 anos. Nascido nos Estados Unidos, mas com raizes em Estarreja, Tony fez questão de matar as saudades do Santoinho nas suas férias em Portugal. “Nós fazemos parte do Rancho Juventude e Sonhos de Portugal de Nova Iorque e já viemos vários vezes ao Santoinho”, contou o dançarino que, coincidentemente, também nasceu em 1972. “Coisas boas nasceram nesse ano”, gracejou Tony para quem o Santoinho representa “festa e alegria”, tão necessárias ao mundo. “A festa está cinco estrelas, o que precisamos é boa força e muita música”, considerou, já com os Sons do Minho a pedir abraços e beijinhos em cima do palco. “Adoro esta festa e saímos sempre daqui a sorrir, a suar de tanto dançar e sem voz de tanto cantar”, apontou a filha. 

Não foi a dançar que o presidente da Junta de Darque chegou à festa, mas admitiu que teve de caminhar bastante porque já não havia espaço para estacionar. “O Santoinho é uma referência para Darque. Quando estamos muito longe daqui e dizemos que somos de Darque, as pessoas não reconhecem, mas se mencionarmos o Santoinho, toda a gente sabe onde fica. Por isso, não podemos estar mais orgulhosos por este aniversário de uma instituição que está para durar e que tem feito um trabalho notável na manutenção, expansão e divulgação para o mundo inteiro das nossas tradições”, reconheceu Augusto Silva, surpreendido pela quantidade de pessoas que encontrou na quinta. “É mais uma prova de que as tradições minhotas continuam vivas”, apontou. 

Sempre acarinhados pelo Santoinho, os tocadores de concertina têm sido uma presença assídua nas festas. Maria da Graça Cachadinha, filha do tocador limiano José Cachadinha, relembrou que o pai já tinha tocado no Santoinho algumas vezes. Acompanhada pelo marido e filho Ricardo, que vibrava com todas as músicas populares que ia ouvindo, Maria da Graça admitiu que gostava de ver um dia o seu pai retratado na praça que o Santoinho está a criar de homenagem aos tocadores de concertina.  

“Parece mais uma inauguração e não uma festa de 50 anos”

O presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal confessou o seu desconhecimento sobre os arraiais do Santoinho, mas redimiu-se ao ser rapidamente contagiado pelo espírito da festa e, apesar de ter que sair por volta das 22 horas, acabou por ficar quase até ao fim. “Eu estou aqui pela primeira vez, mas a minha família já passou por cá. É uma festa muito bonita e o Santoinho faz um grande serviço ao turismo de Viana, do Minho, do Porto e Norte e diria mesmo de Portugal. É um cartaz turístico muito interessante onde estão bem preservadas as nossas raízes, tradições, o folclore e a etnografia. E 50 anos não é uma data fácil de atingir com esta dinâmica. Com os milhares de pessoas que estou aqui a ver, isto parece mais uma inauguração e não uma festa de cinquentenário”, realçou Luís Pedro Martins. 

Atendendo à importância da marca Santoinho na atração de turistas, o presidente do TPNP adiantou que em setembro está agendada uma visita à quinta, com a Agência de Promoção Externa do Porto e Norte. “Podemos cruzar este produto com outros produtos da região. Queremos que os turistas da região que entram pelo Porto percorram o nosso território e é importante ter âncoras, como o Santoinho, para conseguir cruzar produtos e criar um pacote que faça com que os turistas venham para aqui”, referiu, desafiando também o Santoinho a estar com o TPNP como cartaz da região na atração de turistas da Galiza. 

A Câmara de Viana do Castelo, que aprovou um voto de louvor ao Santoinho em reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo deste meio século em prol das tradições da região, esteve representada nesta festa pelos vereadores Manuel Vitorino e Fabíola Oliveira. Com a Romaria da Senhora d’Agonia à porta, o vereador da Cultura admitiu as parecenças entre as duas “romarias”. “O Santoinho é uma marca e um lugar que, ao longo destes 50 anos, tem servido de encontro intergeracional de portugueses, particularmente minhotos, e de emigrantes com as suas famílias e também como palco para a festa de instituições. Tudo isso cria um sentimento de pertença e amizade das pessoas com o Santoinho”, enalteceu Manuel Vitorino, destacando também o papel didáctico que a Fundação tem desempenhado para a preservação das tradições transmitidas às segundas e terceiras gerações de emigrantes. 

A festa terminou já de madrugada com uma sessão de fogo de artificio que fez lembrar a Serenata da Romaria d’Agonia. Depois do último foguete estourado, Jorge da Silva, de Arcos de Valdevez, e um grupo de amigos, todos emigrantes em França, fez questão de ir tirar uma selfie na eira do Santoinho, com o enorme cartaz alusivo ao aniversário por trás. “Adoramos o Santoinho, o Minho… o champarrião que hoje não se bebeu, mas não faz mal porque houve alegria”, afirmou o emigrante de 45 anos. “Esta festa foi top. Podem fazer outra. Para os 51 anos, estamos cá”, assegurou Jorge, com uma das mulheres do grupo ao lado a resumir o Santoino a “amor, festa e alegria”. 

“Parece mesmo uma romaria. Agora vamos ter de ir rezar”, disse, a rir, um dos romeiros a caminho dos parques de estacionamento, de onde se formaram novamente extensas filas de automóveis cheios de gente que permanecia animada.