“A minha vida sem garranos não é nada” 

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Mais de 50 criadores participaram no III Concurso Nacional de Equinos da Raça Garrana e na Corrida de Cavalos de Passo Travado, durante as Feiras Novas. As atividades equestres decorreram na Expolima ao mesmo tempo em que o cortejo etnográfico estava a percorrer as ruas de Ponte de Lima. O público que preferiu ver os cavalos a passar mostrou-se atento e animado.

Com esta actividade, a Associação Concelhia das Feiras Novas quer demonstrar que a raça milenar do garrano “continua a vir à festa” e debaixo de um sol abrasador, cavaleiros e cavalos começaram por participar em concursos de beleza e de postura. Fernando Bezerra, professor natural da freguesia da Correlhã, ficou em quinto lugar com o seu cavalo Figo. “Eu não faço isto pelo prémio. Quero mostrar que temos bons animais em Ponte de Lima”, admitiu o criador que tem oito cavalos na Correlhã. “Participamos para preservar a raça, mostramos as potencialidades destes animais e passamos o testemunho aos mais jovens”, referiu ainda. Para Fernando Bezerra, Ponte de Lima tem apostado cada vez mais na promoção do garrano através de actividades como esta. “As pessoas conseguem ter um contacto mais direto com o garrano e desta forma podem despertar um gosto por esta raça. Muitos miúdos andam com estes cavalos e outros jovens  ficam curiosos com o animal”, acredita o criador que foi ainda júri na Corrida de Cavalos de Passo Travado.

A Nature House de Arcos de Valdevez arrecadou os dois primeiros lugares no concurso de beleza de garranos. Bárbara Guimarães, uma arcuense de 15 anos, foi a jovem que conduziu os dois cavalos. “A Zimia é muito especial para mim e tenho orgulho em dizer que é minha. É uma égua bem feita e a filha dela, a Montanha, ficou em segundo lugar”, declarou a cavaleira, visivelmente satisfeita por ter vencido com a raça garrana. 

“Somos criadores de garranos e gostamos muito desta raça. Somos a favor da aposta na criação do garrano e, por isso, quisemos vir a Ponte de Lima. É um gosto representar esta raça”, afirmou. “Com estas provas podemos incentivar as pessoas a criar bons exemplares de garranos”, acredita a jovem que começou a andar a cavalo aos três anos com o seu pai e que está, atualmente, a estudar na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Ponte de Lima no curso de Técnico de Gestão Equina. “A minha vida sem cavalos não é nada”, admitiu.

O pai de Bárbara, dono da Nature House na freguesia de Oliveira, também conduziu cavalos neste concurso. “Foi um orgulho ver a minha filha ficar em primeiro lugar no concurso. Também foi um reconhecimento do nosso trabalho e da dedicação que temos à raça”, afirmou, partilhando as mesmas opiniões da filha Bárbara. “A competição de Ponte de Lima é uma montra para o garrano. É dos concelhos que organiza mais atividades promotoras do garrano, o que é de louvar”, reconheceu o criador.

Na Corrida de Cavalos de Passo Travado, João Veloso, criador de cavalos natural de Arcos de Valdevez, conduziu três cavalos e mostrou que nasceu com uma veia equestre. “Desde pequeno que convivo com estes animais. O meu avô e o meu pai já corriam com cavalos em Ponte de Lima. Agora, eu e o meu irmão também participamos nas competições”, contou o arcuense de 21 anos. 

“As pessoas que estão a organizar estas atividades estão a fazer um bom trabalho e cativam os produtores”, elogiou, considerando que Ponte de Lima está a reavivar a criação do garrano. “As pessoas de Ponte de Lima puxam para as corridas dos garranos. Em outros sítios estas atividades estão acabar e assim a raça pode deixar de existir”, alertou.

A inclusão desta competição na programação das Feiras Novas procura manter viva a tradição de quem fez do cavalo o meio de transporte para ir à festa. “Antigamente, muitas pessoas vinham às Feiras Novas a cavalo e comercializavam os garranos na romaria. No final da tarde era costume os criadores desafiarem-se em corridas de passo travado”, contou Paulo Pimenta, um dos organizadores. 

“Manter as corridas dos garranos é manter uma tradição das Feiras Novas. Assim, garantimos que a herança dos nossos antepassados passe para as gerações vindouras”, reiterou Paulo Pimenta, considerando que este concurso, se não decorresse em simultâneo com o cortejo, “seria das actividades mais bonitas das Feiras Novas e a Expolima ficaria cheia”.