“Decanter é a loja mais fotografada na Fortaleza de Valença”

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Com uma vasta experiência no mercado das bebidas e restauração, João Guterres, de 71 anos, é o proprietário da Decanter, em Valença. Os originais licores e gins produzidos por este valenciano são produtos de referência no panorama nacional e internacional.
A Decanter tem duas lojas dentro da fortaleza de Valença, sendo que uma já é um ex-libris neste local emblemático. “Tenho, provavelmente, a loja mais fotografada dentro da fortaleza. Coloquei um painel de azulejos há mais de vinte anos com um poema de 1928 sobre Valença. Na parte de baixo tenho a garrafeira e no primeiro andar uma sala que serve de museu. Recentemente, levei os meus livros, que são quase três mil volumes, sobre culinária. É um museu sobre o que era a industria alimentar em Valença, ainda do tempo em que existia uma fábrica dentro da fortaleza. Neste momento o museu só está aberto com agendamento, mas quero que seja permanente”, adiantou.
O Decanter surgiu com a moda do gin e o primeiro a ser lançado no mercado foi o “Alma”.  “Na altura procurava um gin diferente, não era do tinto, mas era de uma marca que ainda tenho hoje, chama-se Alma e tem seis botânicos dos países de língua portuguesa. Tem, por exemplo, cravos vermelhos, rosas e de Angola, onde fui militar, consegui trazer pau-de-cabinda”, explicou. No meio deste processo, tinha uma propriedade com papoilas vermelhas, que aproveitou. “A pétala é autorizada para infusão, como tranquilizante. Então macerei e o gin ficava vermelho, foi nesse momento que ficou o nome de gin tinto. Portanto, ao contrário do que as pessoas possam pensar não tem vinho, o tinto é das pétalas vermelhas da papoila”, acrescentou. O trabalho de João Guterres está ligado, há 46 anos, à comercialização de vinhos e bebidas brancas. Entretanto, começou, também, a fazer licores, o primeiro deles de pastel de nata, que foi “um sucesso”. Em todos os licores associa uma imagem de marca de Portugal e um poema de um poeta português. “Quando dei a provar o licor de bolacha maria, não disse o sabor e um senhor disse logo que tinha sabor a bolacha maria. Tenho muitos licores de café e um de pericos que é emblemático, aliás no gin tinto um dos botânicos é de perico. Tenho o licor noivas de Viana, que era da torta de Viana, e o licor de Sidónio, um bolo dedicado ao Sidónio Pais, que era de Caminha”, explicou. Aposta também na distribuição da cerveja Estrella Galicia em Valença, Monção e Melgaço. “É uma marca muito forte, que é procurada pelos espanhóis e também pelos portugueses. Têm uma cerveja muito boa, a 1906, que tem conquistado muito mercado”, vincou. 
O ramo de clientes do negócio liderado por João Guterres é vasto, é vai desde as pequenas lojas gourmet até às lojas francas dos aeroportos. “Procuram-nos pela imagem e qualidade do nosso produto. As lojas dos aeroportos são clientes muito importantes porque, para além de vendere, abrem muito mercado externo. Fruto disso temos um bom mercado na Holanda e França. Cinquenta por cento das nossas vendas é para o estrangeiro”, assegurou, revelando que a actualmente a empresa conta com sete colaboradores. “Mas já fomos mais do dobro antes da pandemia”, alertou. A Decanter também tem loja online. 
Apesar do sucesso do seu projecto, João Guterres admite que o volume de negócio diminuiu devido ao “fraco poder de compra” dos portugueses. “Os destilados, em geral, caíram muito. A vida noturna era uma grande consumidora de destilados e agora caiu para metade. Com o custo de um gin tónico as pessoas bebem três cervejas e vamos a uma festa ou a um bar e notamos perfeitamente que as coisas não são como eram”, salientou, queixando-se do valor dos impostos neste tipo de bebidas. “O valor do imposto de álcool e do IVA é maior que o custo do produto. Estamos a passar por dificuldades com as garrafas e rolhas, com os preços a subir. Mas temos que nos adaptar aos tempos. Por exemplo, tinha uma garrafa gravada a ouro e agora já deixei de fazer essa gravação”, contou, assegurando que os restaurantes da Fortalenza de Valença, seus clientes, também sente essa recessão. 
O seu trabalho na área da gastronomia e bebidas tem chamado à atenção e João Guterres tem sido abordado personalidades de vários sectores. Contou que há cerca de dois meses foi abordado na loja por uma pessoa que tinha participado numa conferência em Viana do Castelo sobre enguias. “Como compraram o meu livro em Coimbra, que também fala sobre a enguia, quis estar comigo para saber mais. Na altura o senhor disse que tinha estado na casa dele uma senhora com ligação a Valença, a Fátima Campos Ferreira. Um dia estava a ler um livro e a minha mulher chamou-me porque na televisão estavam a fazer uma entrevista a esse senhor. Era o Carlos Fiolhais”, contou. 
Para o futuro, João Guterres ainda tem “vários sonhos” e um em especial. “Quero escrever mais e publicar mais obras. Gosto de ler, investigar e andar no terreno. Há quem goste de futebol ou andar de bicicleta, mas eu prefiro ler e escrever. Um dos maiores sonhos é abrir o meu museu”, revelou o valenciano, que também é tesoureiro na Santa Casa da Misericórdia de Valença. 
“E sou responsável pelas alimentações diárias. Temos uma nutricionista, mas é tudo controlado por mim”, declarou.